O CADAFALSO DO POETA
O CADAFALSO DO POETA
Não siga alvitres de macróbios poetas somente,
Ainda que deva apreender-lhes o asfalto da sageza
Que, pela estrada da vida, quase sempre pavimentam,
Dispense receber o pólen daqueles que gostem de ostentar
Despotismo camuflado em jardins de onisciência.
Siga-os, mas, deles não seja presa.
Não, de forma alguma, tome a presunção, a prepotência
Por belas aquarelas de portos que afirmem guardar a única via
Para o reino dos sortilégios que residem
No inefável caminho das pedras.
Não, não se atenha tão-só á superfície;
Vá além, até as suas mais íntimas profundezas:
Sim, pois lá reside a magia. Lá mora, soberano,
O cacto, o bambu, o juazeiro, a rosa, a orquídea, a concha, a alga,
A água-viva, a aridamente lírica fauna marinha, a flora mais Garrida da Poesia!
Sim, contemple-a, adore-a, provoque-a, toque-a, burile-a;
Ame-a e a deixe amá-lo, beba-a e a deixe libá-lo;
Copule-a e a deixe copulá-lo, ejacule-a e a deixe ejaculá-lo.
Enfim, penetre-a e deixe que, por ela, você seja penetrado.
Faça tudo isso,
Só não siga somente os conselhos de um feto ou de um macróbio
Profeta,
Vá além, siga seu próprio caminho. Ah, sim, transcenda!
Persiga seu próprio horizonte. Trace a sua própria linha reta!
Por quê? Porque as palavras e versos de vates maculados ou
Ascetas
Nada mais são que o cadafalso do poeta!
Sim, eu creio até demais nesta arrogonte e presunçosa sentença.
jessé barbosa de oliveira