ânfora partida
Essa ânfora deitada
De barro fosco
Antiga e seca
Das águas que se foram
Essa ânfora de asas abertas
Querendo voar
Em líquido céu
Essa relíquia
Que guardou segredos
Molhou bocas
E palavras em degredo
Velou em silêncio
Colocada no canto superior
da sala
por todo ambiente.
Posto-me diante
Da ânfora
E me despeço
Meus olhos irão embora
Minha sede interminável
Inexplicavelmente
Terminou
Como terminou o caminho
a seguir
agora senhora
me arrependo da menina
e da moça que fui
das caçoadas, das bonecas quebradas
dos cavalos que galopei.
Lá fora, aguarda-me o vento
Incontida brisa
Que veio de lugar nenhum e
Vai para qualquer lugar
Há uma angústia expectante
Um silêncio que mora entre as palavras
E se esconde nos fonemas
Abafados de sua voz.
É tarde agora,
E permaneço deitada
E, vem na memória
Aquela ânfora
Lembro ainda de sua rachadura
De sua base trabalhada e talhada
Por mãos artesãs
Tento ouvir aqui
Quieta meu coração
Que se derrama em meus
Pesamentos
Que oscilam qual um pêndulo
A compassar o infinito
Momento de não mais voltar.