NO BALANÇO DO MAR

Na rede que balança a alma é paz,

o mar desenha seu lamento:

ondas em verso sussurrando se faz,

ritmo de um mundo pacato e lento.

Os pés descalços no vaivém,

Pernas pro alto, pés apontando o mar,

Nós lábios, o frescor se detém,

a paz, enfim, não tem pressa de passar.

O horizonte funde céu e água,

linha que some na miragem.

As gaivotas riscam o ar calmo,

silêncio faz teatro, diante da imagem.

O corpo é areia, leve e inteiro,

o pensamento, barco à toa no esteio.

O vento enrola histórias na pele,

e a alma, sem âncora, navega livremente.

Que fique assim: a tarde infinita,

o mundo lá fora, mera mentira.

Aqui, só o eco das ondas na concha,

e a vida, um instante que não se apressa.

Fecho os olhos: o mar já mora em mim.

O resto é espuma, é sombra, é fim.

Quizera passar os anos que resta

Gravando pra sempre a imagem na testa.