Olhos de poeta
Os ipês estão floridos,
embelezando a cidade,
desfilam suas nuances
no chão da civilidade.
Tem ipê roxo, amarelo,
não se sabe qual mais belo,
mas sabe-se do seu valor.
De pé eles valem mais
que tombados nos umbrais
de um nefasto predador.
Quando vejo um ipê florido,
sinto-me feito Moisés,
diante da sarça ardente
que se estendia aos seus pés.
Extasiado ele via
a mais fina epifania
da sagração revelada...
Lembro a visão inquieta
de William Blake, o poeta,
bem na minha alma cravada.
Nota: A segunda estrofe foi inspirada na crônica "A complicada arte de ver", de Rubem Alves.