Alvorada Santarém
Belém, pensando em Santarém, 15 de dezembro de 2024.
Hoje, quando se comprou pão em Santarém,
final de alvorada
Parecia que era a primeira vez que o ar entrava nos pulmões
força que ao mover o sangue, esquentava de vez as pernas
máquinas que moviam a bicicleta naquelas vias de piçarra
era um caminho nublado, de gostoso orvalho como Santarém oferece,
a recordação que esse era o habitual das manhãs mocorongas de inverno
não o fumaceiro que denunciava parte da humanidade criminosa
não os olhos e narinas magoadas
não as tosses
mas sim as visões e cheiros próprios da mata
o ar puro esperançando o dia
Naquela terra molhada, naquelas folhas úmidas
o alívio dos próximos meses menos quentes
mas bem que poderia ser esse descanso dos primeiros meses do ano
um preparo para o salto,
o salto de evitar no verão a labareda
a queimada
a fumaça impiedosa
Mas quietemos um pouco
é final de ano
hora de mentalizar como é a Amazônia em seus ciclos
homenagear cada chuva caída
cada trecho de rio voador
cada poça d'água formada
cada ensaio de rio formado
rios de boa vontade que irão juntar-se
do Tapajós ao Pacajá
do Curuá ao Xingu
do Arapiuns ao Jari
Que nossas cachoeiras não tenham sede
nem nossas crianças e amores.