SOCORRO, QUEREMOS VIVER!
SOCORRO, QUEREMOS VIVER!
Começa a arquejar o pulmão verde do mundo.
Por vezes penso se um dia vai ser só memória
aquele balancear tranquilo e sereno da ramaria,
ora atiçada pelo vento, ora pelo passeio da macacada.
Anauê acará, anauê aracema, anauê caapuã, anauê sauá.
Oxalá não veja a humanidade, em lugar desse bucolismo,
o solo seco crestado pelo sol inclemente,
o calor transformar o tesouro verde em palha
e, depois, o ar em movimento carregar o pó
soprando para longe a terra ressecada.
A natureza por ser perfeita é lenta, construir leva tempo.
Quantos séculos de trabalho de nossa mãe
para engendrar toda essa bela trama!
Ao contrário, destruir não demora.
Poucos golpes de machado ou de serra
abatem um soldado da vida nessa Terra.
A azáfama interesseira já fez muita ferida
na preciosa mata onde ainda piam alguns passarinhos.
Não demora a mangabeira vai deixar de existir por lá,
como ela o tucumã, o mogno, a seringueira e o açaí.
Para aonde irão as orquídeas e bromélias,
o boto rosa, o pirarucu, a piranha, o caapora
e toda a exuberância verdejante?
Enquanto se dorme nas palhas e não se move uma palha
para trazê-la ao colo e protegê-la da predação,
estão lá exploradores ambiciosos e inescrupulosos,
movidos pela cobiça, cuja ambição deserda nossos filhos,
e transformando em deserto a esplêndida floresta.
Assim, não demora, nas águas da Yara, morada de Irupé ,
o Iguará de asa branca, a lua airequecê e a estrela airumã
não poderão mais se banhar, tampouco se admirar.