A dança das águas

As águas dançam ao sabor dos ventos que,

soprados pelo tempo, são de muito vorazes.

Bailam como se não houvesse amanhã;

bamboleiam loucamente, em piruetas mágicas;

ondas desvairadas se esfregam umas nas outras

querendo cada uma delas dar melhor perspectiva.

Um escarcéu endemoniado de rodamoinhos

dançam ao som de uma música surgida delas próprias:

principiam com murmúrios, o som das ondas do mar,

e se desvairam até um vibrante e sinfônico fortíssimo!

A sincronicidade se desperdiça no baloiçar individual:

cada onda que cresce e se desmancham nos ares,

e logo ressurge fulgurosa e semelhada, uma outra –

por vezes mais caprichosa nas cambalhotas.

Quanto mais dançam as águas, mais perpetuam-se “água”:

fluida; espontânea; orgânica; intensa; singular; surreal...,

mas desarvorada quando se metamorfoseia em ondas.

São governadas por forças do acaso e são anárquicas,

essas ondas que fazer a dança das águas no mar.

Parecem movimentos sincronizados tal como um balé,

mas não há interação ou concordância que isso seja:

é tudo muito imprevisível, mas de beleza estonteante.

Me sinto tal qual essas águas que dançam nas ondas;

governadas pelo acaso e tangido de cá para lá

e de lá para cá, pelos ventos soprados pelo tempo.

Me falta, talvez, a elegância e a faceta dos trejeitos.