O VÉU DE NOIVADO

O Véu de Noivado

Canta o Entufado pela alvorada, Mata Atlântica é a parteira da Serra

Permitindo que em seu ventre outros ventres gerem pela Terra

Onças, cobras, sapos, aves, um ecossistema inteiro, em terra, água e ar

Sublime, gigante muralha, canta a gralha, mesmo que te alha, Serra do Mar:

Que o homem não destrua sua casa, debaixo da sua asa ele ainda vive!

Amparado pelo doce cheiro das árvores, esperançado pelo agudo aclive

Da sua estrutura, Serra do Mar!

A neblina e o clima úmido hão de chegar!

Na minha cidade passa a névoa que vem de ti

Tantas lendas, tantas belezas têm o meu País!

A névoa enbranquece as cidades ao redor de Mauá, chuva gelada

Abrange Ribeirão, São Caetano, Poá, Itaquá, há uma lenda em Paranapiacaba

Uma das versões: um inglês se apaixonou pela filha de um operário

O pai não aprovou essa união e no casamento, no horário

O noivo foi trancado num porão, deixando a noiva esperando no altar

Ela se foi, pegou um trem e se atirou dos precipícios da Serra do Mar

Por isso essa neblina: é o véu da noiva, da nossa triste noiva sem noivo

O véu cobre minha cidade, cobre outros Estados e tudo desaparece de novo

Quando mais nova, essa história me era romântica e cheia de beldade

Mas meu pai insistia: "ela não tinha nada melhor pra fazer, tipo uma faculdade?"

Quem é a noiva que com carinho tece o véu que me ampara trazendo ventos?

Quem quer que seja, que tenha encontrado o seu amado e não sofra mais desalentos

Caída a chuva, a neblina se dissipa e tudo ganha uma cor mais forte e mais límpida

Os pássaros se banham, as árvores absorvem pela sua casca ríspida

O cheiro da chuva: a água já não é inodora

Nascem filhos, brotam filhos: a fauna e a flora

No começo da exploração, você deu trabalho aos portugueses!

Desejada, cobiçada muralha, Deus proteja os teus seres!

Que suas árvores cortadas voltem a crescer e os animais em extinção

Possam procriar e viver nessa nação, não há invasão:

O saruê que entra na sua casa não é um invasor

Você que se apossou da terra onde ele era morador!

Sinuosas estradas longas e viadutos pelas redondezas

Algum tempo sem intervenção os transforma em verde natureza

E tudo é esfumaçado como miragem pela neblina

E de uma lenda distante assopra a menina

Tudo volta a experimentar o nevoeiro da estrada

A menina noiva de Paranapiacaba.

Véu de vento, pintado de branco, decorado pelo uivo da ventania

Se tornou o véu da Serra, aparecendo no cair do dia

Mãe de muitos, ventre fértil, eu te pergunto, de onde vem tanta beleza?

De onde vem sua coragem de se regenerar, de sobreviver com destreza?

Puro e limpo verde, lampejos de água e sol que trazem os ipês

Não dá para admirar de uma só vez, estou perdida em vocês!

* Muralha que tampa nossos ouvidos, que estejamos de ouvidos bem abertos

Para te proteger dos humanos: seres que se acham muito espertos!

Serra, essa neblina é realmente um véu ou o olhar humano que é cheio de poesia?

Se você me disser que é um pano de pão para esconder seus bens de "moscas" eu acreditaria! *

Natalia L A
Enviado por Natalia L A em 03/12/2024
Código do texto: T8211000
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