Numa moitinha de capim-marmelada
O cerrado-savana berrou a que viria:
Fartar em pequi, buriti, mangaba,
Cagaita, bacupari, araticum, baru,
Coquinho, murici, jatobá e mangaba.
Melando e azedando a vida
No sertão mais bonito e achanzado,
Onde a vista num longor não dá conta.
Ê buniteza seca, Meu Pai!
Nosso Senhor acrisolou o deserto,
Ocorrendo fartura do primordial
Onde o pão escasseia
Na pobreza do chão sem vigor.
Casca grossa. Súber adivinhando o fogo.
E o cerrado acudindo de cacimba
Abrolhando as lacrimosas manadeiras de
Francisco, Tocantins, Paraguai e Paraná.
Ô cerradão de meu Deus!
Ilustríssimo conhecedor de venturas.
Da seriema nervosa e caçadora,
Do perdiz e da rolinha columbina,
Da coruja-buraqueira e da ema,
Das que voam e das que capengam.
É também lugar de pousar prestígios
Nos que arrancham sob o jatobazeiro,
Pra pernoitar e lambiscar uns trecos
Engenhados no rente.
Feito a anta, o lobo-guará
Tatu-canastra, tamanduá - bandeira.
Ou fazendo o foi-não-foi,
O clandestino sapo-boi.
Ah, Cerrado! Que é rico e pobre,
Estóico. De ensinar bravuras
Pelo mostramento dos graves.
E é das funduras retirantes
Que se extrai a fibra, o remédio,
O algodão e o barro que molda
Em apirangado sangue,
A gemura do sertanejo.
Nos barrancos terrulentos,
Esculpem prédios as formigas
Lavadeiras de pés descalços.
Naquela ardência de brasa
O mundo se espreme pra justar
No seco e largo de um lugar
Façanhoso e por demais apropriado.