Ode a tempestade
Ode à Tempestade
Aqui, seguro, observo o céu sombrio,
O vento ruge feroz sobre a terra e o mar,
Mas nada atinge este abrigo calmo e frio,
Onde, em paz, tua fúria posso admirar.
Nuvens negras e furiosas cruzam o ar,
Fantasmas revelados nos raios que despontam,
Mas, no aconchego, o medo não vem se instalar,
Embora me perturbe ver os que te afrontam.
Ó tempestade, tua ira não me alcança,
Apenas desperta admiração profunda,
Pois do caos brota a beleza que balança
O coração, que em teu poder se inunda.
Teus rugidos não abalam minha calma,
E por um instante, me fazem crer no domínio,
Mas, embora teus açoites não toquem minha alma,
O mundo ao redor treme sob teu desígnio.
Como seria te enfrentar em campo aberto,
Quando Deus nos põe à prova com sua fé?
Não poderei filosofar com acerto,
Se a luta é apenas manter-me de pé.
Quem te deu tanto poder sobre o mundo,
Para instaurar um mar de medo e grosseria?
Será para lembrar, em um gesto profundo,
Que o poder do homem se desfaz em um só dia?
Agora, sem proteção, passo a te temer,
Como o homem que da poesia se esquiva.
Se a tempestade enfraquece o meu crer,
Na proporção, o poema doma a fúria primitiva.
Roni Martins