A Esfera

PRIMEIRO LIVRO

SALUTAÇÃO

Ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo;

Por todo século glória e honra tenha

E bem-dito seja Teu nome quanto

Em toda criatura de seu valor venha!

Louvado e grato é em todo canto,

Mente pura e devoto coração mantenha,

E confessada seja a Tua bondade,

Pieza, misericórdia e caridade!

PETIÇÃO

Doce Senhor abra os lábios meus

E ilumina o meu ser com Tua luz;

Minha boca anuncia os caminhos Teus

E cheia de louvores que sempre induz.

Meu guia e ajuda sejas, oh Deus,

Com Tua graça qual o mundo conduz;

E que meu dizer seja consolação e fruto

À todos que entendem meu discurso.

PROÊMIO

À todo povo gentil e mente pura

Que decidiu entender a razão

Com a qual se governa a natura

Do princípio da primeira moção

Aquela de qual toda criatura

Herda sua qualidade e condição

Digo que leiam os versos seguintes

Chamando Deus com almas ouvintes!

DO ESPÍRITO SANTO

Omnipotente Deus, Pai e Senhor!

Oh Summa Sapiência e Verbo Eterno!

Que foste em carne nosso Redentor;

Oh Espírito Santo, amor superno!

Oh vera Trindade, brilhante esplendor!

O único verdadeiro e sempiterno

Oh Criador do universo e mundo;

Princípio e fim, altíssimo e profundo!

POTÊNCIA. SAPIÊNCIA. AMOR.

No alto imperial céu com firma essência

Comandas e regras e regues o firmamento;

De qual à nós se mostra a Tua grã potência

Do dono desse imensurável comprimento

E reconhecemos Tua infinita sabedoria

Ao olhar no céu cada adorno e pigmento

Que para nós criaste com tanto esplendor

E qual nos revela teu inacabável amor

GRANDE. VELOZ. BELO.

A Tua grandeza passa todo intelecto

Tua velocidade todo caminho transcende

Quanta beleza e de quantos é predilecto

Se vê nisso quem de coração Te atende

Verazmente exaltado, justo e correcto

A alma gentil de tal amor se acende

Almejando sempre ver os semblantes

Das criaturas nobres e estrelas brilhantes

TRANSMONTANO

Eu vejo a estrela que acima do polo gira

Com as setenta e duas que lhe atendia

A qual por necessidade muito se mira

Pelos navegadores quando falta o dia

E quem deseja encontrar o corpo vira

E olha o chifre no céu que se acendia

E quem chegar perto o suficiente para ver

Pelo gelo e frio da zona norte vai tremer

O OUTRO TRANSMONTANO

Na oposta parte e em no globo ao redor

Há um outro polo também de fria natura

E qual não podes ver de nosso arredor

Pois entre nós e ele há uma grande arsura

E entre os polos há um círculo aquecedor

Qual faz noite e dia terem igual mensura

Entre a quente e as duas frias há lugares

Que são habitados e para pessoas lares

ESTRELAS

Dentro da grande e alta circunferência

De estrelas são um número infinito

E cada uma delas produz sua influência

Nos corpos humanos e no terrestre sito

Pois muitos não sabem dessa ciência

E assim comumente profetizam perdido

Assim falam do futuro sem terem certeza

Pois não sabem das estrelas a natureza

ZODÍACO

Um círculo imaginado sábios de maior grau

Como Zodíaco foi por eles determinado

De dez e dois Signos, seja um bom ou mal,

São feitos girarem no curso à eles ordenado

Homens, bestas, plantas, peixe e tudo naval

Parecem todos sentir seu atual estado

Em cada um o Sol tem um mês de império

E há seis dos Signos em cada hemisfério

SIGNOS E SUAS COMPLEXÕES

São os signos de Áries, Leo e Sagitário

Da natureza do fogo quente e seco

O Câncer e Escorpião e Peixes ao contrário

São húmidos e frios e no Carneiro aqueço

Que vem Virgem e Touro contra Aquário

Pois cada um deles é seco e frio ou fresco

E Capricórnio, mas quente e húmida Libra

Junto do Signo que dois juntos equilibra

AS SETES ESFERAS, SATURNO

Pois são sete planetas em sete esferas

Um após o outro no curso centrifugal

Saturno é dessas luzes e a primeira delas

Qual parece à vista uma safira oriental

Suas proporções são verdadeiras e belas

E qualquer um pode medir a prova real

Por números e medidas e nenhuma magia

Como se demonstra clara a Astrologia

SATURNO

Este planeta faz as pessoas contemplativas

E pensativas e castas e são bem astutas

Sutileza de intelecto têm em medidas

Tanto ao bem quanto ao mal são acultas

E os deles notamos de vista e são passivas

E são muito prudentes evitando disputa

O nome é de um homem de Creta

Que tinha do planeta a natureza direta

JOVE

Dele nasceu o magnânimo Jove

Qual os antigos pegaram o alto nome

Do segundo planeta que se move

Na sua esfera reluzente e nunca some

Claro como cristal e nada lhe remove

Um lorde justo e rico em renome

É temperado e há como sua influência

O poder da autoridade e magnificência

MARTE

Seguido direto pelo ardente Marte

Seu filho de natureza sanguinoso

Em vista rubra é a cor de sua arte

E é de essência irado e furioso

Seus seguidores agrada ser aparte

Os inimigos da preguiça e repouso

E se em prol do melhor eles agem

Em virtude e força têm vantagem

SOL

Claro esplendor e chama reluzente

Sobre toda outra criatura bela

Te considerar elude toda mente

E tua descrição a língüa supera

Oh luz que assim ilumina a gente

E a nobreza das estrelas exubera

Tu refletes ao mundo a figura de Deus

Mais que todas as coisa ao parecer meu

Oh Sol! Oh coisa só singular!

Que mede o tempo neste mundo

E alegra a terra, o ar e o mar

Quando vêem teu riso jocundo

E olho nenhum pode agüentar

Os raios de teu corpo rotundo

Tua virtude é o que tudo produz

Estendendo à todos tua clara luz

SIMILITUDO

Mais perfeita que qualquer figura

É aquela figura esplêndida qual

Sem princípio ou fim em mensura

É em si de similidade eternal

Não se pode macular sua luz pura

Por coisa corruptível e mortal

À todas as coisas e estados dá geração

Do princípio ao fim a variada condição

E ninguém deve se maravilhar

Que um só deus três pessoas são

Distinto cada uma, e singular,

Não misto mas com perfeita união

Tu vês o Sol e o corpo solar

E a luz e o calor com sua radiação

Percebes que os três são o mesmo fogo

Sem qualquer mais velho ou mais novo

O PAI GERA O FILHINHO

Gera qual espelho o resplendor

E não o espelho à ele e dos dois

Igualmente procede o calor

E não é nem será e jamais foi

Dentre eles tempo ou hora pospor

Imediatamente feita a obra pois

No momento que aparece no oriente

Vemos os raios e seu calor se sente

OS PAGÕES E CRISTO

Não conhecendo o verdadeiro criador

Nem vendo uma mais nobre criatura

Os antigos estiveram em erro e horror

Por chamarem Deus como a natura

Lhe adorando e fazendo-Lhe favor

E templos e sacrifícios em grã cultura

Como se essa fosse a luz da verdade

Mas Deus iluminou à nós a realidade

À quem o Sol tem sua potência

Por sua concepção ou nascimento

Homens são de grande inteligência

E são luz à gente em todo momento

De grã doutrina e de grã sapiência

E ao operar pelo bem jamais é lento

Ferventes são e plenos de caridade

Em quais reina a Summa Veracidade

VENUS

Então segue o venero planeta

Luzente estrela que sempre ria

Os seus são de alegre faceta

Reais e claros à quem os confia

Se adornando de mui ouro e seda

Cultos e alegres e Midas repudia

Inclinados à luxúria e vão delecto

Se deixada a razão do intelecto

MERCÚRIO

Mercúrio faz o homem ser bem falante

E a indústria de mercador ele almeja

Ser um bom procurador e juiz advocante

E tratar com qualquer coisa que seja

Ele foi o filho do aegisado alto-soante

E seu embaçador em toda peleja

Ou disseram os poetas em sentimento

E sua estrela parece ser de argento

A LUA

A Lua é o mais baixo planeta luzente

E qual mais tarde completa sua jornada

E já seu céu é diáfano e transparente

E como são os outros não é vedada

A vista que não resguarda futilmente

Por tudo até a funda esfera estrelada

Assim grã deleite podemos sempre derivar

Dos planetas e reluzentes estrelas observar

OBSCURAÇÃO DO SOL

Mas de seu corpo, e eu falo da Lua,

Pois é sólido e denso e não transparece

Quando ela se interpõe e se situa

Entre o Sol e nós e na reta igualece

Bloqueando o Sol sem que luz possua

E sem os raios dele o mundo escurece

E quando a impressão é completada

É o ponto que de velha à nova é mudada

VARIAÇÃO DA LUA

Sem luz dá-se a Lua mudada escura

Quanto não vê do Sol tanto não acende

Por isto vemos como variável sua figura

Pois entre à cima e à baixo resplende

E quanto mais distante é sua mensura

Do Sol tanto mais a luz aqui rende

Sobre a Terra e quando se repressa

É em tudo reduzido essa luz dessa

OBSCURAÇÃO DA LUA

E quando ela é direta em oposição

Do espelho do Sol e mais distante

Converge a escura demonstração

Se tal ponto estiver logo adiante

E o eclipse ocorre pela ocasião

Da Terra entre ela e o Brilhante

Pois ela tem maior tamanho como fator

E os raios para passarem carecem vigor

EFEITOS DA LUA

Sobre todo humor pode muito afetar

Em todos os animais e em planta

E em seu crescer e em seu minguar

Dá força e fraqueza à tudo quanta

E assim muito deve ela resguardar

Quem aos enfermos medicanta

Que muito se vê daqueles a razão

Dos que carecem sua consumação

Nos corpos humanos onde há dominação

É de pigra ação, baixo engenho e maligno

Mutável e volátil é sua pobre condição

É gente sem empenho nem é fidedigno

Com nenhuma firmeza e pouca razão

Quando a alma quer seguir esse signo

Um coração feminino não sabe o que deseja

Sempre reclama não importa o que aconteça

ORDEM NATURAL

O Suma Virtude, que em ti sempre é estável

À cada um céu singular moção Tu proveste

E com a Tua perfeita grã sabedoria inefável

Diversas vias para cada um céu concedeste

Perpétuo é com pacto para sempre durável

Que mantivessem sua lei Tu estabeleceste

Essa concordância celeste tão maravilhosa

Ultrapassa no pensamento toda outra cousa

EFEITOS VARIADOS DA LUA

Com esta se governa a natura

Produzindo as coisas diferentes

Onde é dissimilar toda figura

Homem e mulher e seus acidentes

De coisas baixas e altas preocupa

Do mais veloz ou passos indolentes

Um armado, um sábio ou um pastor

Ou um que por outra arte tem amor

EFEITOS NO TEMPO

Assim vem um tempo de carestia

Noutro guerra e noutro abundancia

Quando seja paz e quando se morria

Quando seja dor e quando se aprazia

De acordo com o planeta de senhoria

O mundo sente o bem ou se malicia

Segundo onde as influências cairão

Seja mais ou menos em cada divisão

Assim vem a quente temperatura

Assim grã secas e grã torrente

E grande frio e gelo sem mensura

Em um país ou em outro atende

Eu digo que se acontece e perdura

Ao tempo e lugar algo imprudente

E de toda tal paixão se cura

A alma que segue sua natura

DA ALMA

A alma que é bela, nobre e perfeita

À imagem e semelhança do criador

Nestas coisas altas ela se deleita

E tomará jamais o caminho de dor

Mas no certo satisfeita é aceita

Para subir ao lado de nosso Salvador

Chamada à eterna beatitude e paz

Com aqueles que seguem a Via Veraz

E sobre todos os céus anda voando

Plena de amor e plena de deleito

E no espelho divino contemplando

Tem plena noção e o bom conceito

De tudo aquilo que vai observando

Que em Sua criação não há defeito

Contente em todos desejos Seus

Eternamente agradecendo à Deus

SEGUNDO LIVRO

De Ti Senhor Supremo temos falado

E desses Teus céus e sua influência

Como por Tua graça foi demonstrado

Agora deixai Tua benigna clemência

Mostrar os elementos e seu estado

As estações do ano e sua procedência

Tanto suas qualidades quanto gerações

E dos corpos mortais as complexões

ELEMENTOS

Tu em medida os elementos eleges

Tens o termino de cada estabelecido

E um do outro claramente discernes

Primeiro é o fogo no mais alto sito

Inalcançável àqueles que submerges

Mas por natureza por si só é subido

Sua esfera é abaixo do céu de Luna

Mas ainda não há mistura alguma

FOGO

A vista humana ver não poderia

Pois é mais que o ar puríssimo

E quem se aproximasse sentiria

Calor queimante e ardentíssimo

E toda coisa que tentar passaria

Sem violência pois é sutilíssimo

Logo abaixo dele é a esfera aérea

De todas a delimitação mais etérea

AR

A sua parte de cima toca a do fogo

Que quente e seco se similam gentis

Esta e aquela do segundo lugar todo

São todas muito puríssimas e sutis

Na segunda nem muito nem pouco

De calor se sente mas friezas hostis

A terceira é da água com a terra

E os confina sempre em guerra

ÁGUA.

A água é úmida e fria e o ar prende

Dela a umidade e do fogo o calor

Assim quente e úmido se entende

Toda complexão do ar e seu vigor

Pois entre as duas ele se estende

E d’um e doutro toma seu humor

E participando da água e do fogo

A terra é fria e seca no lugar todo

TERRA

A terra é de corpo sólido e pesante

E mais grave que qualquer elemento

Posta no centro da área circulante

A esfera mais longe do firmamento

De todas as partes é eqüidistante

Entre ar e ela é da água o assento

Embora em partes se descobre

A terra alta que a água não cobre

INFERNO

Dentro ou abaixo é coisa nenhuma

Se não o Inferno dos condenados

E os anjos réus ninguém exuma

Do eterno ventre dos atormentados

Faz pagar as almas de consuma

Que quiseram morrer em pecados

Seu diâmetro em milhas é sete mil

E a circunferência por pi se mediu

EFEITOS

Quão maravilhoso é entender

Que de ferro e pedra sai fogo

E ver a faisquinha descender

E crescer de pouco à pouco

E qual pode assim acender

Mil tochas para o lugar todo

E sem mais pavio ou nutrimento

Se parte e volta à seu elemento

DO AR

E de novo bela razão é pensar

A qualidade do ar e sua natura

Que quanto mais alto se andar

Lhe encontra mais sutil e pura

Por isso pássaro não pode voar

Nem se sustenta em tal altura

Se sustenta na baixa e mais grossa

Pela resistência que bater se possa

PÂNTANOS

Quanto mais se desce abaixo ao vale

Em lugar de pântanos e de marema

Tanto mais o ar folto e crasso compare

Os habitantes na saúdo têm problema

Pois que do alto seixo o vapor escape

Não podem exalar como na área plena

Assim a humidade pode muito manter

Pois o seco vento não tem lá grã poder

CHUVA

Levanta-se o Sol e nos vales ele desce

E seu calor se vê preso e encubado

E gera muitas corrupções pois aquece

Onde se encontra o terreno inundado

Surge pelo ar e como névoa coalesce

E cai como espesso aguaceiro opaco

Faz tanto brutos animais e vermes sujos

E homens enfermos por ares dissolutos

MONTI

Nos montes o Sol aparece como o dia

Resplandece claro e purga todo vapor

E o vento que soprando ao redor ia

Resugando e dissecando todo humor

Pois no ar puro e que muito adornaria

O úmido e o quente não têm vigor

Por isto corrupção não vem à ocorrer

E lá as pessoas sadias vêm à ser

NEVE.

Não há maneira do ar se engrossar

Assim ele apenas sobe e vê a friura

E quando um lugar baixo esquentar

Aquele úmido vapor surge em altura

E encontra o frio sem mais se elevar

Pois lá faz neve e cai sobre a planura

Nos montes ela se mantém por ser frio

Mas já nos vales ela se torna água e rio

GRANIZO FULGOR

Mas no verão o Sol mais se aquece

E o calor leva mais alto todo humor

Encontrando o frio ele se endurece

E faz gelo que cai com muito rumor

Pois se rompe e tudo se estremece

Como granizo e como qual vapor

Que quando seco e se bate acende

E com grã trovão e raio o ar fende

VENTO

Aquele ar puro daquela alta região

Repugna e não consente mutações

E como se deles sofresse tensão

Quando chegam essas exalações

E empurra de volta por esta razão

Que este ar não recebe paixões

Onde se move forte e tal vento

Ao mar e à terra dá tormento

OCEANO

O grande mar sobre a terra redonda

E a maior parte dela cobre e banha

E a terra que é mais alta que a onda

Surge do fundo como uma montanha

Oceano é dito esse que a terra ronda

Mas pelo estreito do mar da Espanha

Se mete no meio da terra aquele mar

Qual Mediterrâneo viemos à chamar

CONFUSÃO DO MAR.

Pois todo símile ao seu símile atende

E dos humores a lua tem senhoria

Quando ela sobre o grã mar se estende

Sempre uma volta e na noite e dia

A água do mar em verso à ela ascende

E revela do oceano uma grande via

E deixado exposto até que a lua passa

E a água cresce e volta à onde era baixa

HORIZONTE

Faça conta que estás sobre um alto monte

E olhas ao redor toda parte em torno

Para ti o céu é como o arco de uma ponte

Passando sobre a terra como um forno

O círculo de qual confina o horizonte

E se for aqui no meio do dia morno

Será esse hemisfério iluminado

E noite será de todo outro lado

DIA E NOITE

Se fosse a esfera da terra e globo

Como é a água, o ar ou o fogo

Sutil que à resistir não é disposto

Nunca seria noite no lugar todo

Mas o Sol não passa o duro osso

E assim o dia some pouco à pouco

A terra o toma e se faz obscuro

Pela sombra de seu corpo duro

HORAS E TEMPOS

Aqui tomamos a medida e a hora

De todo tempo do século presente

O Sol em vinte e quatro retorna

E gira de volta ao exato ocidente

E em diversos lugares a aurora

Está sempre se pondo no oriente

Vinte e quatro horas é um dia material

Que entre a noite e dia é sempre igual

PRIMAVERA.

No tempo que começa a primavera

Plena de flores e de planta frondosa

E assim temperada rende toda fera

O doce vento quieta a onda aquosa

Igual o tempo do dia da manhã bela

E que o Sol esconde na noite graciosa

Até o meio de Julho o dia cresce

E o tempo dele a noite aquiesce

No começo de março ao meio do mês

Quando o Sol entra no signo do ariête

Úmida e quente sua complexão fez

Tudo ledo como um grande banquete

As criaturas reacesas de amor de vez

Com o fogo da geração e com sede

A humidade vem do inverno passado

E o calor vem do Sol que é represado

VERÂO

Qual o Sol está mais próximo de nós

Pois é no verão a órbita da esferidade

As frutas seu raio amadurece após

Ser consumida aquela grã humidade

E o dobro da noite de dia vem à vós

Até começar à diminuir sua quantidade

Menor em meio setembro pouco à pouco

E este tempo tem como sua natureza o fogo

AUTONO

Pela noite agora ser ao dia igual

Começa o frio e o calor vai calando

E se do dia a noite é o maioral

Ao meio de dezembro continuando

Este tempo se diz ser outonal

Onde vai quente e frio contrastando

Faz o ar turbar e muito se chove

Onde pela água o calor se remove

INVERNO

Esse é feito tempo rígido e enojoso

Gelo, neve, água e grã vento sente

E cada riacho e rio corre ruinoso

Fazendo espesso dano à muita gente

O mar é conturbado e tempestuoso

Ar, terra e água cada um combatente

E esse tempo dura até chegar o dia

Que a doce primavera retornaria

ELEMENTOS II

Dos elementos há quatro principais

Que são a terra, a água, o ar e o fogo

Compostos são os universais animais

Tomando de cada muito ou pouco

E no dissolver dos corpos mortais

Cada elemento retorna ao lugar novo

Homens e bestas, aves e planta que floresce

Cobras, peixes e pedra que murcha e cresce

COMPLEXÔES

Quatro complexões no corpo humano

São de natureza de quatro elementos

Qual tornam o corpo enfermo e sano

De acordo com o equilíbrio dentro

E como se discorda mano à mano

Ao corpo diversos acontecimentos

Como febres por muitas razões

Segundo as ditas complexões

CÓLERA RUBRA

Cólera rubra é do verão, fogo e Marte

Sangue com primavera, ar e Vênus

Flegma, inverno, água e Lua têm parte

Melancolia e terra são como venenos

E do outono e de Saturno é essa arte

Se no corpo eles estiverem plenos

E sofrerá do mal no grau superlativo

Pois a complexão não é nada passivo

COLÉRICO

Coléricos são aqueles homens ligeiros

Agudos, prontos, destros e animosos

Aptos à se provarem bons cavaleiros

E no combater eles são muito furiosos

Quando conturbados são sutis e certeiros

De corpos enxutos e corações cobiçosos

Sua destemperança é três em declínio

Um dia bem, noutro febre tem domínio

SANGUÍNEOS

Sanguíneos são de doce condição

São temperados e de largueza honesta

Gente de muita paz e sem agressão

Benignos e amorosos com toda festa

Apesar de inclinados à fornicação

De toda complexão a mais sana é esta

Sua destemperança é sempre contínua

E se descobre no pulso e pela urina

FLEUMÁTICOS

Fleumáticos são moles, frios e graves

Pensantes e longos em todos seus afazeres

De grosso engenho quando se desbrave

Quando fora de sua área buscam prazeres

São benignos e sábios evitando ultraje

E temperados em conselhos de lazeres

São plenos e gordos e sua destemperança

É a febre nomeada cotidiana e é mansa

MELANCÓLICOS

Os melancólicos são os piores adiante

Pálidos e magros eles são sem felicidade

Naqueles que este humor é abundante

São dispostos à todo tipo de cobicidade

E sua preocupação é sempre constante

São solitários e de bem pouca amizade

Sua febre é a quarta desarmônica

E assim é de todas a mais crônica

DA ALMA II

Se a alma quiser suprema reinar

Vencerá todas estas paixões

Mas se deixar ao corpo subjugar

Obedecerá estas inclinações

Quando ela deixa o corpo guiar

Ela segue suas bases condições

Perde a alteza e o bem do intelecto

E é seu, e não de outro, o defecto

Mas se ela quiser viver com razão

E governar o corpo com mensura

Seguindo a bela divina inspiração

As coisas bases pouco lhe preocupa

Nos bens eternos será sua intenção

Pois no mundo nenhuma coisa dura

E sobre todas as coisas no céu ordeiro

Voando andará com amoroso zelo

BENS TEMPORAIS

Estas compostas coisas corrompíveis

Que não podem durar nem satisfazer

A verdadeira vontade das almas sensíveis

São juntadas apenas após muito sofrer

E com temor seguramos coisas flexíveis

Que apenas dor e pranto podem trazer

E quem vê o que realmente são

Não lhes dará qualquer atenção

Essas coisas prestam só para nosso uso

São dadas e postas abaixo de nosso pé

E quem não tem o olho da mente obtuso

Usa algo apenas como ele realmente é

Mas se então tu tens o coração confuso

É como prostrar-te à teu escravo ao invés

É summa loucura que por uma coisa vil

De sua própria grã senhoria um desistiu

TERCEIRO LIVRO.

A DESCRIÇÂO DA TERRA

Summo Maestro o Criador desta casa

Quem fez os céus e a terra e tudo bom

Tudo que ela contém e que lá é criada

Concede-me por Tua graça e teu dom

Que eu proceda bem como Te agrada

Com um claro estilo e perfeito som

Ao figurar tanto a terra e mar e ventos

Para que tenhamos bons entendimentos

ZONAS

Se desenha quatro para se mirar

Os sítios da terra e de toda parte

Do oriente à onde o Sol vai deitar

Se faz cinco zonas em alguma arte

E oito ventos são para se navegar

Principais, meios e quartos reparte

Estes dão luz para se bem entender

E de todas as partes compreender

DOS VENTOS

Zefiros é aquele chamado de Poente

E Choro o Magistral, mas já Aquilono

Trasmontana se chama e já o sucedente

Bóreas é dito Gregal e já Euro é dono

Do Levante e já Noto incontinente

De Siroco se chama e segue Africono

Como Médio e o último do claustro

Libécio ou Harbin que se diz Austro

LA CARTA

Veja a carta onde estão signalados

Os ventos e portos e toda a marina

Mercadores e piratas no mar ousados

Um por trabalho e o outro por rapina

Em um ponto ricos ou desaventurados

Às vezes até de uma volta da matina

Já que não há sorte mais proveitosa

Nem que se demonstre tão ruinosa

A GUIA

Com a bússola da estrela temperada

Da calamita verso à transmontana

Vêem o ponto onde a proa é apontada

E faz sua viagem à distância plana

E com o timão guia à ereta estrada

A nave quando está com mente sana

O náutico vai para a polpa comandar

De ponto em ponto a via à tomar

AS VELAS

Puxam a antena mais baixa ou alta

Segundo o tempo temperado e forte

E quando um vento ao outro salta

É preciso de gente sabida que corre

O povo à cometer de falta em falta

Súbitos são os perigos da morte

E sobre todas as coisas ao navegar

É preciso ser solícito e bem vigiar

RELÓGIO

Precisa do relógio para se mirar

Quantas horas com um vento andaram

E quantas milhas por hora arbitrar

E encontrar quanto do mar navegaram

E de noite se pelo mar foi caçar

Quão longe da terra agora se acharam

De noite vão com mais sentimento

E temperam a vela à pouco vento

Quando o vento contrário seja

Voltam em mão destra e sinistra

Para não desfazer e sua via veja

E não perder a passagem quista

Até que o vento não mais forteja

Por sorte quando o mar se atrista

É achar um porto ou atrás virar

E volte sem destroços se tornar

Dos oito cinto não são de grã esforço

São de bom favor em toda parte

Mas os três são contrários ao porto

E precisa de pratica e grande arte

E marinheiros sem bom conforto

Vão perder suas velas e nave

Quem sabe entrar luta pela salvação

Joga a âncora e salva a nave no chão

Pedras são muitas pelo mar cobertas

E pode se bater e se quebrar nela

Se marinhos vão em rotas incertas

Ilhas grandes e pequenas se revela

E dela falaremos nas partes certas

Quando vermos do Sol a passarela

Primeiro vejamos o geral da terra

Como reside e como o mar a serra

DA TERRA

Um T dentro de um O mostra o jeito

Como em três partes foi diviso o mundo

E na parte superior há o maior reino

Que quase toma a metade do rotundo

Ásia é chamada e a perna reta o leito

Que parte o terceiro nome do segundo

África eu digo da Europa que pelo mar

Mediterrâneo entre esses vem separar

Este rotundo não é metade da esfera

Mas muito menos e todo o outro é mar

E não é toda essa que se faz e intera

Com árida terra mas dá para navegar

Em certas parte o grã riacho impera

Que bem a terça parte vem banhar

Da água salgada vinda da grande borda

Que o mundo cerca e toda a terra orla

DE ADÃO.

Ásia é a prima parte onde o homem

Sendo inocente estava no Paraíso

Pelo desobedecer da maçã consomem

E foi de tal graça remosso e diviso

E por vergonha na própria casa somem

E comem pão com o suor do seu viso

Cinco mil e duzentos anos passados

Que estivemos no mundo condenados

DA ÁSIA

Ela está acima das outras duas partes

Por isto é de lá a humanidade derivada

E teve lá a origem das ciências e artes

Quando a lei por Deus foi à todos dada

E lá algo dissimilar e nossos estandartes

Pelo santo filho da doce Virgem Beata

E ele escolheu ser a nossa redenção

Quando no fim vier a grande destruição

DOS QUATRO RIOS

Quatro grã rios e bem maravilhosos

Regam toda a terra desta partida

Que em todas escrituras são famosos

E de três se sabe donde é a saída

O quarto vem dentre os fogos arenosos

E rega a Etiópia e então se exira

No mar do Egito e é chamado de Caligino,

Egião e Nilo e não se sabe donde é vindo

FRISÃO E TIGRES E EUFRATES

O Frisão é outro voltado ao oriente

Das montanhas da Pérsia à Índia ia

E verso ao siroco é a sua corrente

Do Tigres que faz o terço da travessia

Contra a Assíria e vai muito de repente

E Eufrates o quarto e qual submergia

Dentro de sua caverna e faz retorno

E de um e do outro corre em torno

Dos montes da Armênia os dois escorrem

Onde pousou depois do dilúvio a arca

E todos os três longo caminho percorrem

Até que no mar da Índia cada um embarca

E qual mar e seus confins transcorrem

Estendido enquanto o oceano se disfarça

Até a Arábia e antes de Sinai ele irá

E então ao poente de Chessi e Bassorá

Da Índia e da Etiópia valorosa

Muitas especiarias àquela gente

Que vem por eles nada custosa

E para levá-los verso o ocidente

Lá chega bem incrível e copiosa

E por caravanas sucessivamente

Mandando camelos em grã mandria

Levando à Damascos e Alexandria

Vem do siroco um braço de alto mar

Que pela cor do fundo é dito Roxo

E cem milhas largo ou quase aparentar

Longo e disteso a figura de um fosso

E torto como um arco vem à mostrar

Seu término e confim sobre um dosso

De Cairo na Babilônia três em dia

Onde o faraó seu celeiro possuía

Da transmontana dessa Ásia Grande

Os tártaros são abaixo da fria zona

Gente bestial tanto de lei e de viande

No fim onde a onda de Bachu ressona

Por aquela terra um grã rio se expande

Que dos dois Ile e Tiro ele se entona

Na maior parte do tempo o frio o cristaliza

E é lá que a grã cidade de Sarai se localiza

O dito rio se mete em um grande seio

De água salgada fechada em toda banda

De qual o giro é pouco mais ou meio

Quanto do mar maior da sua guirlanda

De um ao outro há um terreno alheio

Oito dias à quem de vela em vela anda

Indo direto ao nascente e de qual abaixo

Da cidade se nomeia também de Bachu

TAUROS

Da outra parte à Pérsia ao meio dia

Que seja no litoral desse mesmo mar

E do poente se vai verso à Turquia

E a grã terra que faz touro enricar

Da qual até Damasco acha tanta via

Quanto da imperial Tribizonda até lá

Que são vinte dias no seu mesmo clima

E Savasto, Ancona e Florença aproxima

Pois há montanhas que por grã país

Estendem-se e são de grande altura

Famosa em escritura mas não saís

Já que saber a gente pouco preocupa

Onde escorrem rios largos e concluís

Como antigamente pela gente pura

Ser o paraíso de deleites e jactância

Por ser a terra de muita abundância

Ela é de todo elemento sumamente

E de omna coisa muito bem dotada

Em torno de cada parte pareamente

De muita boa terra ela é circundada

E sobre todas estas ela é eminente

E o mundo todo em torno resguarda

De tudo que se possa imaginar

Este país era soído à abundar

MAIS MARES.

Esta montanha é tão grande e tal

Que vê do vasto Oceano ao oriente

O mar caldeu e da Índia ao austral

E vê da bela Síria tudo ao ocidente

E qual da Tribizonda vai ao mistral

E vem da Pérsia que é mais presente

E vê toda a Assíria e a rica Caldéia

E da siroca terra de arenosa Sabéia.

NÍNIVE E BAGDÁ

De onde foi a antiga e grande cidade

De Nínive em seu Tigres que foi prima

Dona do império e de muita contrade

Pouco mais onde o mesmo rio digna

É agora Bagdá e o mar logo invade

Esse rio que nos mostra a alta cima

Da grande torre que Ninrode pôs de pé

Após o dilúvio e arca de seu bisavô Noé

MAR DA ÍNDIA

O litoral do mar da Índia à mão sestra

Vindo em vez em verso ao oriente

Com o litoral do Egito à mão destra

São em uma linha reta igualmente

Perto desse litoral foi a grã palaestra

Dos soberbos gigantes sobre a gente

De tantas língüas e se vê quem tem fé

Que a dita torre está ainda reta em pé

A MECA

Faz de largueza quatrocentos em milha

O dito mar e é cinco vezes mais longo

E de riqueza todo outro ele humilha

De caras pedras preciosas compondo

E tanta pérola e grande maravilha

São colhidas e serão ainda mais supondo

Na outra praia é a Índia e continente

Que se distende assim ao ocidente

Está a Etiópia ao meridiano chão

Tórrida zona e estende ao poente

E o nascente vai na destra mão

Onde é a Arábia que vem presente

O Mar Vermelho e terra do sultão

Que tem Meca e vai muita gente

Onde é o sepulcro do farsante maldito

Na arca de ferro Maomé o semi-erudito

Abaixo do Mar Vermelho seguindo o rio

Do Nilo até o mar da Damieta abençoada

É a província do Egito que luz instruiu

Na Astrologia qual foi lá por eles revelada

E de ciência e de todo bom costume uniu

E antigamente era deles muito adornada

Dos antigos padres e dos santos eremitas

Muito repleta foi dessas e outras visitas

EGITO

A terra foi e é rica, populosa e plena

É fértil e muito deleitosa e sana

Pouco chove, mas da grã veia drena

E conduzem a água sem caravana

E regam o país de tal maneira serena

Fazendo a terra frutuosa e plana

Que a abundância aqui tudo altera

E todo tempo parece ser primavera

CAIRO

Na beira do rio elegantemente se posa

A grã cidade do Cairo que contém

Tanto de gente que é coisa maravilhosa

Ver em toda parte quanto a via retém

De modo que andar lá é coisa fatigosa

De tanta multidão que vai e vem

O número eu não direi por vergonha

Pois dirão ser uma mentira medonha

MONTE ATLANTE

Que lá terminasse a Ásia sua mensura

Tirando ao meio um direto caminho

Até chegar na parte da grande arsura

Qual não tem habitante nem vizinho

A África começa e essa então dura

Continuando pelo litoral marinho

Até o Estreito e depois o quanto se possa

Pois o oceano vai até a parte mais remota

Abaixo do Nilo em milha setecentos

E mais da metade é de sabrio e areia

Um país adusto pelos quentes ventos

E lá não há água que surja de veia

Então há um monte em milha trezentos

Que vulgarmente se chama de Careia

E o tamanho dele é imensurado

E na história de Atlas é chamado

Do monte ao mar é o ar temperado

Que os ventos adustos não podem passar

E em parte é menos de um dia passado

E em outra três e quatro antes do mar

E esta parte é um terreno bem habitado

E bons terrenos cheios de fruta e pomar

E no pico por causa da grande altura

Há quase sempre neve e grã friura

De lá do monte são quentes e ardentes

Pessoas são raras e de estéreis terrenos

Torrida zona por secos ventos presentes

E é pleno de serpentes e seus venenos

E já que da terra estamos aqui contentes

Ao contrário a área marinha veremos

Com a ajuda de Deus que nos mostra

À qual tem estado e será a guia nossa

QUARTO LIVRO

Começando então do meridional

Litoral do mar e sua boca estreita

Dezesseis milhas largas é o canal

E em tudo monte e rocha espreita

Está a cidade de Ceuta e de tal

Seis dias ao gregal Marrocos se deita

E outro mesmo tanto oposto dessa

Pelo meio da gran cidade de Fessa

Abaixo de Ceuta talvez por mil milhas

Por tal litoral se faz pouca notícia

Raro ir lá se aconselha nem há trilhas

Nem por deleite nem por avarícia

E por lá já foram pelas grã maravilhas

Passar mais adiante e com tristízia

Dele e de sua gente que fez tal ida

Ninguém mais se sabe de sua vida

Em qual mil milhas de marinha

Verso o libécio acha primeiro Arzila

E depois Larácia se faz vizinha

Sala após segue que é uma boa vila

Um rio que de um lado lhe alinha

Que do Monte Atlante se distila

Pelo meio de Fez passa e cento e cinqüenta

Milhas até lá e da Ceuta o mesmo aparenta

Nife, Zamor, Fassi, Gazola e Messa

Uma e outra à cinqüenta e oitenta

Milhas se encontra uma depois essa

E mais depois parece de planta isenta

E se acha apena a areia mui espessa

Indo pela praia o tanto que se agüenta

Vendo da terra tem mais ilhas no mar

Como Canário e outras menores lá

Seguindo o litoral verso o oriente

À trezentas milhas é Honaine no mar

Sobre Ceuta andando com o poente

E quem em Tremecém quiser andar

Pela terra é três dias ou quasemente

De Honaine à Cartagena faz parear

Partindo junto com o vento africono

Duzentas e trinta milhas ao aquilono

Pelo poente e gregal está Orão

Mais alto cem milhas no distrito

A cidade de Tenés na mesma mão

Mais cento e cinqüenta seu sito

E pouco mais de cem de longuidão

É a de Argel que se dirige o dito

À Aigues-Mortes verso a transmontana

Qual país tem mui pouca terra plana

Indo à Bugia são milhas vinte e cento

Pelo poente e gregal e após é Bône

Duzentas milhas por esse mesmo vento

E de uma à outra cidade se racione

Cem milhas e então a seguinte vendo

Se encontra Bizerta que se direcione

Por fama perto foi a grande Cartago

E dela se acha mais nenhum traço

Túnis faz à frente sua residência

Sessenta milhas com golfo e porto

A cidade resguarda como Florença

O Sol ao ocaso quase e ao seu orto

Capital de reino e de grã potência

E bem dotada terra e não torto

Que ela é no meio da Barbária

E mais que outras perto da Itália

Está com Jerusalém e Sevilha

Inclinado ao Euro e bom Zéfiro

E vizinha por duzentos em milha

Das duas maiores ilhas do giro

Quais são Sardenha e Sicília

Quase um triângulo se bem miro

África está indo mais pelo meridiano

Passado à direita o Cabo Bon africano

Da África à Capolia e à Facesse

É de muitas secas a praia remota

Se quiser navegar dali à Capesse

Para esse por um canal se pilota

E segue por ele até Rassa Mabesse

Mas quem precisa mudar a rota

Até Túnis seguindo pelo magistral

Trezentas milhas pela reta longal

Após é Trípoli cidade de Barbaría

Cinqüenta e cinco inverso o nascente

E Misurata é por essa mesma via

Duzentas e duas voltas faz crescente

Então é até Rausen pela travessia

Onde faz a cabeça do Monte Atlante

Deixando um golfo à mão direita

Zianara e mais Bengasi e Tolomeita

E quem girasse o golfo e o costeia

Serão mais em milhas que duzentos

Da capa de Rausen à Bonandreia

São cem milhas com certos ventos

Até Luco mais duzentos se vagueia

E de lá à Alexandria quatrocentos

E quase ao meio Larassa se acha

E qual país é de terra muito baixa

Guarda Alexandria ao poente Ceuta

E guarda à transmontana Satalía

É uma terra rica, nobre e perfeita

E é grande porto de mercadoria

Daqui é onde o Nilo ao mar se jeita

Cinqüenta milhas são pela direita via

E chama-se lá de Rio Roseto o leito

O delta três mil milhas do estreito

Uma outra foz sem fazer girada

À mais cinqüenta ao mar se alinha

Passada a qual se encontra Damiata

Mais duzentas milhas de marinha

Até Larissa que é mais engolfada

E que mais ao mar roxo se vizinha

E aqui do nascente à transmontana

O litoral gira e toda a terra é plana

De Larissa à Laiaza armeniana

A costa segue reta por seiscentos

Toda essa via pela transmontana

Vai ao gregal pela quarta dos ventos

O porto da grã Beirute siriana

No mesmo ao ponto de trezentos

E quem quiser pilhar o navegar

Até Alexandria é meio milhar

Em torno é o Mar Guial e estagnada

A terra deserta até o lugar fosco

Onde é a triste e bem punida vala

Que julgada foi por Deus com fogo

E de um lago morto que a espada

Do Monte Senai se vê um pouco

Em qual foi dada a boa lei divina

E é sepultada a santa Catarina

De lá à Beirute ao meio comprimento

Em Joppa o porto da terra santa

Que deveria ser daquele o monumento

Que como líder dos cristãos se levanta

Onde o digno rei teve seu assento

Que fez a obra que todo dia se canta

Onde é o santo sepulcro de Jesus

E onde no crucifixo foi nossa luz

Sião a qual capital da Judéia

Verso o nascente à direita mão

E da sinistra mão a Galiléia

E ao oeste de lá o Rio Jordão

E à destra mão segue Cesaréia

E Acre e Sura e Lébano e Sidão

De lá o rio tem suas duas fontes

E há Carmelo e outros santos montes

De Beirute sobre a terra uma jornada

De um dia e meio àquela grã cidade

Que em todo mundo é tão nomeada

Mercadantesca e de grã nobilidade

Potente e rica é Damasco chamada

E nenhuma é de maior antiguidade

Sobre toda a terra não se anuncia

Contra esse grã fato em toda via.

Trípoli da Síria segue pelo mar

Sessenta e mais trinta para Torrosa

Laodicéia após setenta no andar

E toda essa é terra montanhosa

Até mais cinqüenta se deve parar

No Soldino na foz tão famosa

Depois Alexandreta mais cinqüenta

E até Laiazo se faz outros quarenta

Angulo agudo faz aqui a marinha

E volta muito vento ao poente

Verso libécio a quarta se alinha

Até Antioquita ou quasemente

Laiaza à cem milhas se avisinha

Ao Tarso e mais quarenta aumente

À Turco e Palopoli mais setenta

E Antioquita em milhas mais noventa

De Tarso e Antioquita reta via

Chipre a ilha ao mar se acosta

À cem milhas de lá e Nicossia

Cidade real na terra e Famagosta

Que foi grã porto de mercadoria

Ao mar do oriente e qual costa

Da ilha girando faz quinhentos

E por longueza ela é duzentos

De Laodicéia e Tortosa ao oriente

A ilha dita guarda a marinha

E pela direita zona ao poente

Se vê Rodes, Modona e após Messina,

Cálari e Maiorca e a sucedente

Valência e Portocale é vizinha

Famagosta à Beirute é duzentos

E até Alexandria por uns ventos

Da Antioquita à Rodes pelos ventos

Indo direto sobre sem costejar

Reto navegando percorre trezentos

Mas desejará dois golfos passar

Que seriam mais longo de duzentos

Em milhas para a costa ir girar

No primeiro é Candeloro e Satalia

E no outro pelo qual até Macri se ia

Rodes é uma ilhota que é empurrada

Da terra firme milhas mar à dentro

E duzentos e cinqüenta é sua girada

E que vira o litoral à outro vento

Até Tenedo direto lá se guarda

Aquela costeira que é quatrocentos

Da mistral à transmontana na quarta

Segundo se bem vê em sua carta

Veraz os grã golfos daquele litoral

Entram na terra e grã capas no mar

E é cheio de bom porto costal

Onde navios podem seguros ficar

Na terra há boas vilas e forte local

É temperado e sãos de se habitar

Direto da Itália e Ancona e a França

E aquela gente porta bem sua lança

Aqui o alto lugar perto da metade

Da direta linha à Efésio vizinha

De Smirra, Foça e Andermate

E são após o golfo da marinha

E quase ao final foi a grã cidade

De Tróia onde foi a grã ruína

Do soberbo Ilium que foi combusto

De onde veio a progênie de Augusto.

Quatro ilhetas de cento e setenta

De giro cada uma perto do litoral

À menos de vinte e longe oitenta

Uma da outra em linha mental

Após Rodes e a prima se canta

Lango e depois a outra do local

Contra o alto lugar é dita como Samo

Sio a outra e outra Metalino chamo

Agora entra no estreito da Turquia

Que é cerca de setenta na boca larga

Verso ao gregal e só por esta via

O dito mar no Mar Maior descarga

E cento e oitenta milhas se faria

Pelo dito vento até que desembarca

Nos muros daquela cidade imperial

Que na estreita boca tem seu local.

A cidade de Aveo está no começar

Da mão destra no dito estreito

E se verso ao aquilono resguardar

A cidade de Galípoli se vê perfeito

E mais adiante quando se alargar

Bem sessenta milhas tem o jeito

De ir para Diasquila na mão destra

Até a boca estreita lá na sestra

Esta outra boca é de duas em milha

E os ventos ao aquilono pelo canal

E cada um ao Mar Maior se apilha

Seguindo o litoral verso oriental

Uma costa de novecentos se trilha

Até chegar em Trebizonda no final

Por Carpi e Pentarachia e Samasto

E Castelle, Sinope e Simisso vasto.

São de uma à outra milha em cento

Uma pela outra menos ou mais

Qual do outro mar se vai dentro

E de Jasa até Rodes também se faz

E dos mares quatrocentos no vento

E qual quadrado antigamente traz

O nome dado de Ásia Menor por vez

E havia muitas províncias e muitos reis

No topo deste quatro está de verdade

O Monte Tauro que é tão nominado

E qual dois chifres ao poente invade

Que vêm longos de um ao outro lado

No meio deles é agora uma grã cidade

Savasto onde o grã turco está honrado

De Simisso lá na transmontana

Quase ao Tarso na meridiana.

Seguidas lá por Vatiza e Girizonda

De cem em cem milhas ao nascente

Seguindo o litoral após é Trebizonda

E onde se move um arco revolvente

Até no oposto onde está Pezonda

Que de ponta à ponta se estende

Duzentas e cinqüenta milhas e girar

Mais cem milhas faria que cruzar

Lovati e Faso os dois rios no beiral

Pela terra vêm desde a Circassia

E mais ao nascente no Bachu naval

As cidades de Organci e Samaquia

E voltando por este dito litoral

Savostopoli se encontra naquela via

E após Pezonda três de cem em milha

É onde pelo canal de Tana se trilha

O dito litoral torna ao poente

O dito canal verso a transmontana

E são duzentas milhas retamente

E verso ao gregal se encontra Tana

E donde partimos primariamente

Esta é a mais longe e mais estranha

Rota que se pode navegar e termina aqui

Todo mundo e Ásia Maior no rio Tanaí

ORIGINAL

E assim a sapiência divina fez o mundo

Com sua mão desenhou os céus e terra

Das altas montanhas ao oceano profundo

E viu ele toda criação boa, perfeita e bela

Onde tudo bom se espalha e é fecundo

E o intencionado paraíso nos espera

Maravilhas que revelam Sua vontade

Àqueles que seguem a via de veracidade

Estudamos a natureza para ver

A inteligente potência do Criador

Quanto mais se sabe mais se crê

Pois nos é revelado Seu infinito amor

E não se pode louvar sem se entender

A grandiosidade de nosso Salvador

O filósofo que ela mais revelou seus segredos

Nos deixa Luz e Esperança contra os medos

As leis que o universo governam,

Cada uma mui bem articulada,

Seu plano original elas preservam

Da eternidade que nos será dada

E assim as ciências nos revelam

Cada fenômeno e criatura planejada

E para Sua honra e glória deduzirmos

Ele nos deu o intelecto de descobrirmos

O agora é do passado um presente

E o futuro com escolhas fazemos

Que seja em nossa alma tão eloquente

Para onde vamos e donde viemos

Seja Virtude e Justiça jamais ausente

Quando o verdadeiro Deus glorifiquemos

Aquele que toda necessidade e prazer provém

Que assim seja para todo o sempre, Amém

Bedengus
Enviado por Bedengus em 14/09/2024
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