Vozes do rio
Vozes do rio
O rio segue seu caminho rumo ao mar.
Para a maioria das pessoas ele vai silencioso em seu lento arrastar-se,
mas para mim ele grita e chora!
Como pode um rio gritar?
Você nunca ouviu o barulho das águas que deslizam sobre pedras?
Nunca percebeu no sussurro das águas que se movem por causa de plantas e peixes?
O estrondo das cachoeiras e a rapidez espumante das corredeiras são gritos...
Na pororoca o rio pronuncia sua palavra junto ao mar.
O rio grita, denuncia a morte de suas águas.
São inúmeras as faces da morte:
O veneno da agricultura e da mineração,
Os poluentes das fábricas e o esgoto urbano,
As margens sem vida nada de árvores e pássaros.
Barrancos que se desmancham e viram lama.
O rio também chora e suas lágrimas amargam as águas.
Sem peixes as águas ficam solitárias, útero vazio e frio.
Poluídas as águas carreiam doenças e morte.
Os afogados, filhos de naufrágios e desespero...
O rio chora sempre que há morte!
No ciclo da vida há uma forma de morrer
Que é natural, momento de recomeço e surgimento do novo.
Não se chora a semente que se transforma em fruto.
O rio só chora quando a morte é sinal de violência.
O rio segue seu caminho silencioso ou barulhento,
Bravo ou tranqüilo, sério ou brincalhão.
Rio moleque, criança, possibilidades de futuro.
Rio utopia de bem-querer, de bem-viver.