Vozes do rio

Vozes do rio

O rio segue seu caminho rumo ao mar.

Para a maioria das pessoas ele vai silencioso em seu lento arrastar-se,

mas para mim ele grita e chora!

Como pode um rio gritar?

Você nunca ouviu o barulho das águas que deslizam sobre pedras?

Nunca percebeu no sussurro das águas que se movem por causa de plantas e peixes?

O estrondo das cachoeiras e a rapidez espumante das corredeiras são gritos...

Na pororoca o rio pronuncia sua palavra junto ao mar.

O rio grita, denuncia a morte de suas águas.

São inúmeras as faces da morte:

O veneno da agricultura e da mineração,

Os poluentes das fábricas e o esgoto urbano,

As margens sem vida nada de árvores e pássaros.

Barrancos que se desmancham e viram lama.

O rio também chora e suas lágrimas amargam as águas.

Sem peixes as águas ficam solitárias, útero vazio e frio.

Poluídas as águas carreiam doenças e morte.

Os afogados, filhos de naufrágios e desespero...

O rio chora sempre que há morte!

No ciclo da vida há uma forma de morrer

Que é natural, momento de recomeço e surgimento do novo.

Não se chora a semente que se transforma em fruto.

O rio só chora quando a morte é sinal de violência.

O rio segue seu caminho silencioso ou barulhento,

Bravo ou tranqüilo, sério ou brincalhão.

Rio moleque, criança, possibilidades de futuro.

Rio utopia de bem-querer, de bem-viver.

William Andrade
Enviado por William Andrade em 27/08/2024
Código do texto: T8138021
Classificação de conteúdo: seguro