A Música Dos Ventos
Aqui dentro, tão quente
Tão seco, aconchegante e sereno
Lá fora, tão úmido, frio
Molhado terreno
Aqui dentro, tão calmo
Tão frágil, humilde e eterno
Lá fora, tão caótico
Forte, raivoso, um inferno
Aqui dentro, tão simples
Amável, quieto e brando
Lá fora, tão longe, ingrato
Horrível, escuro em que ando
Aqui dentro, tão doce, calor
Mas triste e solitário
Lá fora, tão amargo e frio
Cheio ou vazio, um eterno calvário
Aqui dentro, contente
Feliz, humano e sincero
Lá fora, bravo, infeliz
Desumano e severo
Aqui dentro, o silêncio
Uma alma que chora
E lá fora?
A música dos ventos
Começa agora
Aqui dentro, tão calmo, correto
Só vejo o teto
Um escuro profundo
E lá fora o mundo
Ainda discreto
O homem é louco
O medo é secreto
Morre fácil o afeto
Que ainda era pouco
A vida se vai
Como um vendaval
Almas estão no varal
Pra secar o seu pranto
Morre o encanto
Morre a alegria
Nasce a melodia
Que agora canto
A música dos ventos
Que venta esperança
Beija a face fria
Do rosto da criança
Como um leve assovio
Sem tristeza alguma
Antes que fique vazio
E deste mundo eu suma
Aqui dentro, tão leve
Gentil e corajoso
Lá fora, pesado
Bravo, perigoso
Aqui dentro, bendito
Vivo mas torto
Lá fora, maldito
Nocivo e morto
Aqui dentro, amor
Bondade e respeito
Lá fora, muita dor
Maldade e defeitos
Aqui dentro, tranquilo
Sereno e Calmante
Lá fora, tem brisa
E no chão que se pisa
Rachaduras constantes