POVOS AUTÓCTONES (Cantos de alerta) *
Meus amigos estou aqui
Para ver o que aconteceu
Nessa redoma total
Num país que era meu.
Eu caçava todos os dias
Pescava peixe também
Tinha deuses e fantasia
Não vivia em desdém.
Agora estou um “bêbado”
Não tenho espaço e nem lugar
Porque das minhas terras
Uns homens brancos vieram nos “salvar”.
Com a bíblia na mão
Para nos cristianizar
Então entramos no jogo
Mas não soubemos jogar.
Eles nos exploraram
Em nome da religião
Assassinaram e nos confinaram
Numa eterna prisão.
Mas hoje estamos “salvos”
“Bêbados” nas ruas com a bíblia na mão
E a culpa não é sua
Por sermos discriminados
Ou chamados de preguiçosos.
Pagamos sempre os pecados
Antes de chegarmos ao céu.
Mas o céu nunca veio
Assim sou o eterno feio
E ninguém dá bola para mim,
Apenas sou mais um Zé Ninguém
Olhando as coisas daqui de baixo,
Assim como elas são de fato,
Mesmo não tendo sido “alfabetizado”
Mas sei me virar no mato.
Só que a mata nos foi tomada
Por aqueles que querem o “progresso” da nação
Assim estamos numa encruzilhada
Entre a espada e a bíblia na mão
E não sabemos ao certo,
Qual o caminho a seguir,
Pois entre nós há muita confusão.
Uns dizem que o homem branco é do bem.
Outros dizem que ele é o diabo em vida.
Só que eu não sei o que é nada disso.
Não sei o que é esse tal de bem
E muito menos o tal de diabo.
Grito forte e quase ninguém me ouve.
Falo aos quatro cantos do Brasil
E, apenas alguns ecos,
Repercutem na mídia,
Mesmo assim não desisto nunca,
Pois sou brasileiro originário.
Sou brasileiro originário
E vou escrever minha história.
Não vou aceitar a escrita pelo o outro.
Ele não sabe o que realmente sou.
Vou registrar cada momento vivido.
Vou escrever palavra por palavra
Até formar uma efeméride de mim mesmo
Ao som das cachoeiras que ainda existem
Livres de agrotóxicos em qualquer lugar
Que exista a paz de verdade.
Vou escrever uma história
Contra a boiada passando,
Pois nossos povos originários
Não podem ficar a vida inteira chorando.
Eles precisam de voz ativa
Precisam de representação
Serei o elo entre eles
E o futuro da nação.
Falarei com uma voz forte.
Jogarei palavras ao vento.
Seja no Sul ou no Norte
Estarei sempre atento
Às mudanças climáticas
Que o progresso acelerou.
Pedirei aos poderosos que sejam menos arrogantes
Que tenham complacência ao semelhante
E ajudem na preservação ambiental,
Razão da existência de todos nós,
Originários ou brancos pelo planeta afora.
Depois continuarei o poema.....
* Poema que será publicado oportunamente no livro: Cantos de Alerta
São José do Povo – MT, 2022.