O Pássaro Cativo
"Armas num galho de árvore
o alçapão
E em breve, uma avezinha descuidada
batendo as asas
cai na escravidão
Dás-lhe, então, por esplêndida morada
a gaiola dourada
Dás-lhe alpiste, água e ovos e tudo
Por que é que, tendo tudo
há de ficar o passarinho mudo
arrepiado e triste, sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam
só gorjeando sua dor exalam
sem que os homens os possam entender
Se este pássaro falasse, talvez os teus ouvidos escutassem
este pássaro dizer:
Não quero o teu alpiste
prefiro o alimento que procuro na mata livre
em que voar me viste
Tenho água fresca num recanto escuro
da selva em que nasci
Na mata entre os verdores, tenho frutos e flores
sem precisar de ti
Não quero a tua gaiola
pois nenhuma riqueza me consola
de haver perdido aquilo que perdi
Prefiro o ninho humilde, plácido e seco
construído entre os galhos das árvores amigas
Quero ao cair da tarde
entoar minhas tristíssimas cantigas
quero saudar as pompas do arrebol
Com que direito à escravidão me obrigas?
Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade
não me roubes a minha liberdade
Quero voar, voar...
Estas coisas, criança, o pássaro diria, se pudesse falar
E a tua alma tremeria, vendo tanta aflição
e a tua mão, tremendo lhe abriria
a porta da prisão."
Olavo Bilac