Voo derradeiro...
Dias antes, em teima de esperançosa lida
Dentre corredores de nuvens
De sois amenos ou escaldantes
Voando a destino, brincava
Brincava, pousava e repousava
Supria apenas de bem, seu ninho
No rasto, a caça de penugens e felpas
Atrás de comidinha, sempre da boa
Juntados ramas, fiapos, folhas e frutos
Enquanto aninhavam-se rebentos
Alimentando um a um, suas crias!
De esvoaçante adejo, belo e sutil
Esgueirando-se em conluio e comboio
Redesenhando curvas na imensidão
Acendendo todas as linhas do horizonte
Sublinhando-as, com Bem-querer Divino
Ascendendo, rasgando, roçando sem riscar
Sem amarrotar os vincos insuetos do infinito
Sem triscar e ferir, sem macular o azul...
A desenvolver-se, em seus repetidos desígnios
Na missão sublime, a qual lhe fora dita fazer!
Avizinhado por outros tantos mistérios
Ciceroneado por assobios de ventos
Por chuviscas, raios de sol, brumas
Até traçar bailado, soar o chamado do bem
Até suar, molhar-se e voltar se refrescar
Até cansar de comemorar com seus iguais
Até preencher-se no espaço seu vagar
Derradeiro feitio no despedido arrebol
Até findar o apagar de mais um dia
Até tatuar-se nas nuvens branquinhas
Pra descambar em seu prometido macio!
E assim, novos tempos cumpridos
A eternizar-se em novos ocasos
Inúmeras outras razões de existir
Novas magias, novas auroras
A desbravar por novas sendas
Certo de seu prosseguir eterno
Na infinita trilha para o paraíso
Alçou voo e voou...voando mais alto
A cumprir , em seu solicitado destino
O inocente, obstinado e lindo passarinho!