"Fui ao bosque, outro dia"
Fui ao bosque outro dia,
Ver macaco, gato, primata, onça pintada e babuíno sagrado
A chita estava manhosa, preguiçosa
Nem se importa com pessoas na sua porta
Triste caminha de um lado ao outro na cela
Quer humanos embora logo da sua janela
Nosso medo ela fareja, como uma gazela
Fui ao bosque outro dia,
Ver elefante, elegante garça, arara parça numa fuzarca
Urso incomodado de um canto ao outro
Meio chateado com cheiro da fumaça
Debruçou-se na árvore pra respirar melhor com seu focinho branco
Suja fumaça o deixou meio tonto
De vergonha na cela, desceu e agora fica num canto
Fui ao bosque outro dia,
Do japonês jardim, ver peixes no riozinho, respirar alecrim, odor gostosinho
Não tinha girafa pescoçuda
Talvez morreu por comer nas alturas
Sua cela ainda estava lá,
Toda fechada, limpa, mas com um arisco tamanduá
Elefante estava fora, mas rapidamente se escondeu
Quando gente risonha apareceu
Ficou dentro do seu cubículo e estremeceu
Imaginando seu marfim em esculturas, pereceu
Fui ao bosque outro dia,
Ver borboletas coloridas e terrário de cobras bonitas
Os macacos, preguiçosos estão
Não se importam mais com gente, dormem tranquilamente
Um deles me seguiu com grinchado de som
Olhando-me, pedindo pra sair daquela prisão
Minha mulher ainda disse: - Esta brincando de montão
"Bem, acho que não"
“Ele quer é brincar fora lá no matão”
Fui ao bosque outro dia,
Ver jacaré, crocodilo, dormindo, bicho-grilo, lelé
Lobo-guará deitado fazendo pouco caso do iguana
Viu e ouviu gente de longe trazendo uma banana
Nem se mexeu pra festejar, queria sua pestana
Sua parceira saiu para ver algazarra, mas preferiu sair à paisana
Também chimpanzé, não vi, não
Dizem que é todo branco, de mata atlântica, linda criatura
Talvez perdesse ninhada ou parceira na confusão
Cela pequena, cura vem não, é loucura, sua perda, sua amargura
Vi crianças e adultos brincarem com micos soltos
Peregrinando pelo bosque, comendo na mão de garotos marotos
Sobem jequitibá, jatobá ou peroba majestoso
Esperando que libertem seus parentes, jaz numeroso
Fui ao bosque outro dia,
Para liberdade sentir, mudar de vida
Mas no bosque é triste a poesia
De bonito não tem nada, na verdade dá azia
Não vi animais nem coisa linda
Era um espelho que refletia (ainda) nossa agonia
Não encontrei a alegria
Os poucos animais que aqui estão
Grincham, rosnam, miam, choram nesta detenção
Quer mundo a fora, como o grande bisão
Fortes, livres como Jah criou sua criação
Fui ao bosque outro dia, para ser feliz então
Não encontrei girafa e chimpanzé brincalhão