OPARÁ
Eu voltei
E lá você ficou
Ao sabor dos ventos
E aos beijos da terra
Ficou no mesmo lugar
Resvalando pela tarde
Sussurrando na noite
Banhando-se de luar
Rasgando as manhãs
Para não perder o primeiro voo
Das primeiras aves
No despertar da mata
No calar dos sonhos
No choro do orvalho
Cheirando a húmus
Eu pedi ao tempo
Que não toque em nada
Os patos selvagens, todos os dias
Mergulharão atrás de vida
Cigarras invisíveis
Hão de agitar suas asas
Ensurdecendo a floresta
Na hora mais quente
Sob árvores centenárias
Na borda do ancoradouro
Quando a natureza permitir
Sempre haverá
Um banquinho e um pescador
Um pescador enternecido
Com a astúcia do peixe
No momento dourado
Um salto contra a luz sol
Eu parti com a correnteza
Como tudo parte, sem escolha
E se algum dia você puder
Transbordar de saudades
Duas águas se encontrarão
No manancial dos olhos meus
Opará: Rio-mar(nome dado pelos indígenas ao rio São Francisco).