Não sei ser um fingidor
Se sinto dor...
lastimo, passo a gemer
em semitons e sustenidos.

 

Fingidor?
Para quê o teatro?

Não posso encarnar duplamente
o que simplesmente sou...

E, ainda assim sou temido.

 

Por vezes, estou tão deslocada.
Um ponto fora da curva.
Uma curva fora da elipse.
Uma elipse a equilibrar

o infinito e a morte.

 

 

Na minha lápide.
Deixem apenas reticências.
Minhas palavras se gastaram
Meus fonemas emudeceram

 

Sou soprano contralto
E, portanto, não estou apta
a entoar cânticos.
Ou a esmerar-me em paródias.

Cada um é, no fundo,
uma piada decadente.

 

Ri-se hoje,
do que ontem era prosaico.
O futuro rirá de tudo...
de nossas ilusões patéticas,
de nosso lirismo pret-a-porter
e dos sapatos exóticos
a ensaiar passos em

meio ao deserto.

Ri-se daqueles que se acham

estarem absolutamente certos...


Não sei ser um fingidor.
A dor se cura porque a sinto.
Meu corpo inteiro embarca
no mar de patologias
e a senitude extingue qualquer razão.

 

Sou míope feito uma porca.
Sem os óculos, só posso imaginar a cena.
Sem os óculos,
posso ter a esperança de que
algo é melhor do que simplesmente é...


Fernando era gerúndio em pessoa.
e, de pouco em pouco nos emabriaga
pela poesia verdadeira
jogada na quadra do tempo.

Jogada à-toa.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/12/2023
Reeditado em 03/12/2023
Código do texto: T7946117
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