O TRONCO SECO

Quero ser esse tronco seco

preso por fortes raizes ao chão.

Que em minhas entranhas ocas

possa abrigar ninhos de passarinhos

seguros e aquecidos, todos

ávidos para voar, pra conhecer o mundo.

Porque nada quero prender

a vida é essa liberdade de sonhar.

Jamais abrigarei serpentes ou aracnídeos

já me livrei destas peçonhas.

Se alguma flor quiser brotar em mim

consinto e dou essa parte de mim que

ainda resta.

Aos bolores dou a minha podridão

as formigas, o esconderijo perfeito.

as cigarras que façam de mim um

palco de harmonia.

As borboletas, que eu assista a maravilha

de suas metamorfoses.

Porque já fui sombra, já dei frutos, já encantei

a natureza na minha primavera.

E quando não tiver mais jeito, que o fogo me consuma. Serei o adubo, as cinzas que

retornam ao início. onde tudo começou.

Se não consegui ser um móvel de luxo

Se não consegui ser uma cruz.

Que eu seja uma imagem florida vivendo

na lembrança e nas fotos que alguém tirou

quando ainda havia beleza em mim.

Tião Neiva

TIÃO NEIVA
Enviado por TIÃO NEIVA em 12/07/2023
Código do texto: T7835264
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