O TRONCO SECO
Quero ser esse tronco seco
preso por fortes raizes ao chão.
Que em minhas entranhas ocas
possa abrigar ninhos de passarinhos
seguros e aquecidos, todos
ávidos para voar, pra conhecer o mundo.
Porque nada quero prender
a vida é essa liberdade de sonhar.
Jamais abrigarei serpentes ou aracnídeos
já me livrei destas peçonhas.
Se alguma flor quiser brotar em mim
consinto e dou essa parte de mim que
ainda resta.
Aos bolores dou a minha podridão
as formigas, o esconderijo perfeito.
as cigarras que façam de mim um
palco de harmonia.
As borboletas, que eu assista a maravilha
de suas metamorfoses.
Porque já fui sombra, já dei frutos, já encantei
a natureza na minha primavera.
E quando não tiver mais jeito, que o fogo me consuma. Serei o adubo, as cinzas que
retornam ao início. onde tudo começou.
Se não consegui ser um móvel de luxo
Se não consegui ser uma cruz.
Que eu seja uma imagem florida vivendo
na lembrança e nas fotos que alguém tirou
quando ainda havia beleza em mim.
Tião Neiva