Agonia da via

Estradas nunca acabam. Trajetos terminam, começam outros.

Por onde for, vento ... poeira, rocha

planta, asa, Sol ...

lixo, sombras... horizonte

gente, muita gente, pouca gente, nenhuma gente ... solidão líquida, borrada,

acenos de passagem, de outros existires,

luzes piscam, máquinas rangem, movem, movem-se, removem, amontoam-se

ruidoso ..................................................um carro ruidoso ficou atrás ...

Outro tempo fluindo, espaço contido, rostos, conversas, atentos olhos.

As pedras cantam, o asfalto canta.

Desfia dor, agonia,

A chuva lava o rosto, o corpo de breu, desgastado.

Os suores escorrem, o sangue, desses braços servis

Líquido negro, reflete as cores do céu, desafia, as camadas altivas do mundo

com seu visco de profundezas.

Jazem rejeitos, lama, folhas, lembrança arcaica lhe rodeia, em mundo de plástico,

papel e metal

Gente sofrida, a margem do progresso, passos doloridos, a margem dos caminhos

Onde tombam as carcaças dos fugitivos, surpreendidos

E o sangue escuro se mistura ao rubro sangue das pressas, desvios, desvarios

Aos suores, odores, horrores, da frenética máquina, que não para.

O caminho da vida cessa. Não o fluxo.

Abram caminho, o caminhão vai passar!