UM POEMA DE OUTONO

 

 

Mergulham no cinza os dias,
O mundo está descontente,
O sol se esconde de repente,
Foi-se o verão de alegrias.
 
Lá fora o frio vento sibila
A noite tem o véu da neblina
Amanhece e começa a rotina
Da gente que não vacila
 
Diante de intempéries loucas.
Encasacada vai cumprir a sina
Debaixo da chuva úmida e fina
Das obrigações que não são poucas.
 
Bem-te-vi que a cantar vivia
Banhando-se na água da nascente,
Esconde-se da chuva intermitente
Lágrimas que o céu escondia.
 
Despem-se lentas as árvores belas
De suas vestimentas mais antigas,
Espalham suas folhas amigas
Que se vão ao sabor das procelas.
 
Quem se abrigava à sombra delas
Para aliviar o calor, as fadigas,
Vê seus braços nus sem as cantigas
Dos bem-te-vis tagarelas.
 
Mas o outono tem seu encanto
É tempo de sopa quente, de carinho,
É estação que encurta o caminho
Da volta ao lar que se ama tanto.

 

Maria Hilda de J. Alão