REVOADA

É hora de revoada!

Ouço o barulho no ar:

Centenas de maritacas

Gorjeiam de volta ao lar.

Fizeram o "êxodo rural"

Vieram morar na cidade;

Pela manhã, levantam cedo,

Voltam no fim da tarde.

Destruindo suas casas,

O homem assim tem feito,

Na gana por mais dinheiro

Levam tudo a ferro e a peito:

Destroem rio, monte e vale,

As árvores são as primeiras;

As maritacas não há quem cale

Vira, pois, uma barulheira.

Uma orquestra de chocalhos

Tocados ao mesmo tempo,

Uma banda sem maestro

Se espalha no firmamento.

Voam de uma árvore à outra,

É uma algazarra louca

Que dá gosto de escutar.

A chuva caiu serena,

O frio também acampou,

Já são nove da matina

A maritaca não voou.

"Vamos ficar na cama?"

"Não! É hora de levantar!"

"Mas, minhas asas estão pesadas."

"Mas temos que nos alimentar."

"Vamos voar aos poucos,

Para a gente se esquentar,

Vamos de uma árvore a outra,

Com muita coordenação,

Vai um pequeno grupo,

O outro fica em observação!"

Umas respondem que sim,

Outras respondem que não.

Conversam todas ao mesmo tempo

E vira aquele barulhão.

Vou passando e ouvindo

A conversa a imaginar

Penso como Deus é lindo,

Por Suas obras posso notar

O céu cinzento, a chuva caindo.

O verde das árvores na praça...

Nem todos olham pra cima,

Nem vêem beleza enquanto passam .

Olhando para o céu: folhas a voar.

Na verdade são maritacas,

Assim o barulho se afasta,

Até o próximo revoar.