QUANDO ELE CHEGA...

Antes de chegar

ele sempre murmura seu som inaudível

mas só aos ouvidos dos mais distraídos.

Sua musicalidade é tela

onde todas as Andorinhas

Já fizeram verão.

Sempre bate à porta bem de mansinho...

porque sabe que é preciso pedir licença para ser;

Algo como chegar e desfolhar para seguir sem ficar.

Quando ele chega...

Só não voa junto quem é bem distraído...

Como quem espreita aonde ir

Desce ele da quietude dos céus,

A acionar seu farolete de luzes pastéis e refringentes

para focar e abrir os caminhos...

a cada verso que se desprende do alto

na intenção de tocar levemente os chãos...

inclusive os de pedras.

Mais uma vez, só não flutua com ele quem é bem distraído.

Sopra, então, uma brisa suave de contos que ficaram,

a chorar em coloridos lusco-fuscos

as restantes nuanças dos verões;

a acionar a memória afetiva

nos toques das texturas, dos fluxos e das sensações...

Só não o decifra quem é bem distraído.

Tem um pacto com o Rei das luzes

então,

rouba-lhe a coroa só por alguns instantes,

a dele extrair todos os carinhos sensíveis;

a espargir suas aquarelas mornas aos ares

desde o ido anoitecer das vidas

a todas as chegadas das auroras possíveis.

Só não se colore de sua magia quem é bem distraído...

Trata-se dum poeta do remanso

que sabe fazer versos calmos e atávicos

dos redemoinhos em pulsações indeléveis;

Paira-se da própria poesia silenciosa que aquece

o todo silêncio que chega mudo e inerte.

Sei que só não o sorve quem é bem distraído.

Da primeira até a sua última folha solta

sempre a procura dum desprendimento a mais,

então segue ele... Outono desnudo de tudo!

porque sabe que seu destino, ainda que árido

é fazer a macia transição das antíteses da existência.

Quando ele chega...

Só não o degusta quem é bem insípido.

A todo verão que se vai...ele se rende

Porque sabe que é preciso poesia mansa

-qual um amortecedor ao continuar!-

para acolher e dissipar o todo frio que espreita

a cada incógnita da próxima estação.

Quando ele chega Outono...ele nunca fica

e só não segue junto aos seus versos

quem é muito distraído...