Era uma vez um vale

Era um vale silente ao pé da serra,

onde corria suave o rio das almas,

nas noites vagas de minha terra,

onde estrelas soturnamente calmas,

pareciam vaga-lumes a espalhar,

brilhos na paisagem, matizando,

como pares de olhos a nos olhar,

nos seguindo, seguindo e vigiando.

É neste vale pleno e todo florido,

onde o sol ilumina com esperança,

um tapete belo de rosas colorido,

onde a luz pálida desce e descansa.

Foi num tempo, hoje bem distante,

já vai longe, muito longe esta façanha,

desceu da montanha um visitante,

com uma intenção muito estranha,

e, neste vale, uma cidade plantou,

e foi crescendo e o vale sumindo,

casas, ruas, praças, tudo se espalhou,

e o matiz da vida, vindo e colorindo,

do vale foi seguindo seu caminho,

entre veredas e no sertão chegou.

Então, a vida caminha desordenada,

numa atmosfera de aspecto adurente,

e o vento vem da montanha abrasada,

brando e quente pelo bosque já ausente,

sem as flores espalhadas como olhares,

velando noites estreladas no firmamento,

daquele céu que refletia os mares,

olhando o vale em seu exaurimento.

Foi-se da montanha a luz do vaga-lume,

o vento brando e silvestre já não declina,

além, uma luz frouxa, brilha em seu cume,

triste, numa cortina cinza da neblina,

que se espalha sobre a cidade iluminada,

que se espalhou crescendo até o mar,

e do vento silente, no vale, já não há nada,

que do verdor de outrora se possa amar.

JarbasTaboza
Enviado por JarbasTaboza em 22/03/2023
Código do texto: T7746171
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