Cachoeira
Lado a lado
Nas rochas sentados
Manteiga de cacau desliza nos meus lábios
Ao tocar os seus
Diante da cachoeira de Baturité
Barulho estrondoso, intenso, harmonioso
Que me faz lembrar do tempo
Em que esse som era tormento
Chuva forte e poderosa
Num instante, tornava-se pavorosa
Escoltada por seus nobres guerreiros
Trovões, relâmpagos, escudeiros
Prontos para o bombardeio
Logo vinha um tremor
De fora pra dentro
Com medo dos sons
Com medo das luzes
Com medo de estar
Sem poder me esconder
Só podia temer
E tremendo temia
O telhado cair
Um raio me atingir…
E com sorte adormecia
Mergulhado numa noite fria.
Mas seus lábios melados
Entremeados do cacau adocicado
Me resgatam daquele tempo
Em que eu tinha estagnado
Sem querer sair
Abraçado ao medo
Companheiro traiçoeiro.
Mas eu não quero mais ter medo
Eu quero ter voz
Eu quero ter peito!
Ouvir os sons
Fechar os olhos
Entender a língua das águas que caem
Pois sua grandeza transcende e transpira emoção…
Cachoeira amiga
Que transmite vida
Me conta sua história
De como nasceu
Formando crateras
Percorrendo as pedras
E caindo lá do alto
Feito paraquedista
Banhado de adrenalina...
Hoje, eu sinto que fui longe
Fui além de mim
Deitei em teu colo de água gelada
Mergulhei
E me sinto são.