ASTRONAUTAS E METEOROS

METEOROS E ASTRONAUTAS I – 16 FEV 22

Foram adoradas através da Terra

as pedras negras que do céu tombaram,

nesse fragor com que nos alcançaram,

luz fulgurante que a luz de estrela encerra!

Algumas chegam a formar pequena serra

nesses pontos circulares que alvejaram,

outras são lagos que as chuvas inundaram,

em seu estrondo afirmam que um deus berra!

A mais famosa é a Ka’aba muçulmana,

que muito poucos puderam contemplar,

mas que costumam indiretamente apedrejar,

já imaginada diabólica e profana:

somente um Deus existe e pedra alguma ostenta

a divindade que nossas almas alimenta!

METEOROS E ASTRONAUTAS II

Mas há lugares em torno do planeta

em que tais pedras são ainda veneradas,

quando não foram já de há muito dessacradas

pelo metal forte que alguma então secreta;

por muitos séculos, só ali havia direta

fonte de ferro, por não serem mineradas

por todo o orbe as jazidas espalhadas:

só um meteoro do metal fonte dileta!...

Certamente muitas quedas foram vistas,

grande temor a mostrar sobreviventes

e se algumas pedras foram depois achadas

de certos deuses tenebrosos deram pistas

e que fazer senão dobrar-se às frentes,

as frontes contra o solo até coladas!?

METEOROS E ASTRONAUTAS III

É bem provável que esta prostração

que mesmo hoje se adota nas igrejas

e que ao redor do mundo também vejas,

tenha surgido por essa antiga adoração.

Também ajoelhar-se como veneração

ou se anel de papa ou arcebispo beijas,

quando disposto a respeitá-lo estejas,

de tais eventos seja final recordação!

Claro que existem outras interpretações,

algumas delas sórdidas bastante,

mas por que seria tal costume universal?

Bem mais provável é que as grandes explosões

se tornassem nessa imagem delirante,

de um deus cruel que só busca o nosso mal!

METEOROS E ASTRONAUTAS IV

Os teóricos dos antigos astronautas

querem as lendas de um só modo interpretar,

como de arcanas visitas recordar:

alguns preferem os chamar de cosmonautas!

Mas como é fácil imaginar-se como nautas

esses cometas pelos céus a rebrilhar,

as longas causas como asas a desdobrar,

de manuscritos a ocupar as longas pautas!

São as carruagens de fogo, esses vimanas,

em que Krishna combate raças inimigas

e vai buscar sua bem-amada no Ceilão!

Ou as interpretam os Gregos e os Romanos,

Hélios e Apollo sendo os seus aurigas,

nos céus mostrando mais viva iluminação!

METEOROS E ASTRONAUTAS V

Quantos disseram que os potentes meteoros

foram castigos pelas faltas dos humanos

ou um combate contra deuses mais profanos

ou a vida a nos descer em mil esporos!

As Perseidas nos encantam em agouros, (*)

estrelas cadentes em jatos como abanos,

decerto sendo alienígenas soberanos

a nos impor seus preceitos e seus foros!

(*) Grupo de meteoritos que descem anualmente

na direção aproximada da constelação de Perseu.

Como os antigos poderiam representar

esses fenômenos perfeitamente naturais

e no entretanto, tão avassaladores?

Se não o fossem como deuses a adorar,

manifestados em seus aspectos materiais,

assim mostrando ser nossos senhores?

METEOROS E ASTRONAUTAS VI

Mas vejam bem: eu respeito esses antigos,

de forma alguma me considero superior:

por que motivo pensaria ser melhor,

só por achar-me das ciências nos abrigos?

Sobre defuntas teologias em seus jazigos,

de pouco ou nada eu sou conhecedor:

Por que o Moloch, cartaginês senhor,

exigia a carne de crianças ou seus umbigos? (*)

(*) Existe menção de que o cordão umbilical poderia

simbolizar a criança e ser lançado à fogueira em seu lugar.

O que acendia tal fogueira repelente?

De algum modo explicariam os sacerdotes,

seus holocaustos através da liturgia!

Mesmo que fosse essa cultura intransigente,

não constituía só de cinzas e chicotes:

alguma coisa de espiritual ali haveria!...

METEOROS E ASTRONAUTAS VII

De Stonehenge qual seria a religião?

Por que astronautas as pedras ergueriam?

Os velhos bretões por certo notariam

qualquer cratera de uma imensa colisão,

com círculo de terra e calhaus em projeção:

por que nos monólitos não as imitariam?

E justamente porque solstícios preveriam,

mais voltadas para os céus suas intenções!

E por que os deuses na América desceriam,

como demônios ou serpentes emplumadas,

senão por imitação do que ali viam?

Os meteoros bem ou mal comparariam

com divindades antropomorfizadas,

e o vasto apoio de adiantada astronomia!

METEOROS E ASTRONAUTAS VIII

E foi assim através de toda a Terra:

quem sabe, mesmo, houve visitações,

mas que ensinassem às velhas povoações

toda a cultura primitiva que ela encerra?

Para mim é desrespeito e à ciência emperra!

Além de sonhos a receber em profusões,

bem certamente houve dos céus contemplações,

interpretadas para a paz ou para a guerra!

Porém não quero parecer conservador:

emprego apenas de Occam a Navalha:

primeiro o simples em minha interpretação

e aos fenômenos celestes dou louvor,

sem essas mil visitas que se espalha,

para dinheiro se lucrar com a confusão!