A TRISTE SORTE

A TRISTE SORTE

Carlos Roberto Martins de Souza

De dentro da gaiola que me deram

Fico pensando no que possa ter feito

Para merecer dos que se apoderam

De um que tem na liberdade o direito

Me prenderam sem nenhum mandado

Me jogaram na solidão de uma prisão

E sem o aval de nenhum delegado

Feriram de morte meu triste coração

Hoje vivo como que vive um bandido

Embora inocente eu fui condenado

Vivo separado de meu mato querido

Fui por um tal ser humano dominado

Os meus limites são mínimas grades

Feitas por mãos sem respeito e amor

E seus corações cheios de maldades

Não levam em conta a nossa dura dor

Só querem ouvir meu canto de alento

Dia e noite na minha pequena gaiola

Meu canto é tristeza é puro lamento

Sem entusiasmo ele não me consola

Eu vejo a portinhola da minha prisão

Lamento por não saber como a abrir

Me vejo fadado a uma dura reclusão

Aqui se morre o meu sonho de partir

Posso sentir no meu sonho saudoso

Como tão era gostoso eu poder voar

Vivia de explorar meu mundo glorioso

Sem ser prisioneiro de tempo ou lugar

Lá para me fartar tinha os alimentos

Matar minha sede sempre consegui

Banhava em águas claras aos ventos

Nada que se compara com isso aqui

Nunca mudam a minha ração diária

Sempre dão uma porção de alpiste

A água que bebo é sempre precária

Tudo aqui se torna em vida tão triste

Será que existe uma injustiça maior

Essa prisão aguça o meu lamentar

A liberdade já morta eu vejo é o pior

Mas alimento o desejo de ainda voar

Me sinto criança sem suas perninhas

Ao ver coleguinhas em volta andando

De que me adianta ter duas asinhas

Se o resto da vida vou viver pulando

Como será o amanhã quero imaginar

Quando eu chegar a idade avançada

Já mudo surdo doente irão me soltar

Dizendo que já não sirvo para nada

Em algum roçado eu vou ser liberto

Ver de tão perto o que sempre sonhei

Percebo o tempo na gaiola de certo

Foi minha degola pois voar já não sei

Sem rumo e com fome afinal morrerei

Eu cumprirei a minha ultima sentença

Mas no céu livre ainda eu sei voarei

Pois fui condenado por uma inocência

É uma irracionalidade completa privar

Da liberdade um ser que livre nasceu

Sem ter limites e com direito de voar

Sem poder apelar do direito que é seu

Coloque-se no meu lugar nesta prisão

Me diga o que seria se sua liberdade

Fosse tirada em um ato de usurpação

Sem culpa tirasse a sua comodidade

O que faria se tivesse a vida anulada

Tirando seu direito ir e também de vir

Fazendo de você a pessoa enjaulada

Impedida de livremente sua vida curtir

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 11/09/2022
Reeditado em 11/09/2022
Código do texto: T7603590
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