PÁSSARO PRESO
PÁSSARO PRESO
Carlos Roberto Martins de Souza
Dói no meu peito ver um canário
Preso cantando humilhado e triste
Pela troca somente do vil salário
Que é um punhadinho de alpiste
Um pobre sabiá preso numa gaiola
Canta triste solitário perde o alento
O cantarolar lembra o som da viola
Tocada na prisão por um detento
Ouço um choro triste engaiolado
Que o canário lança em acalento
Ele chora o seu canto disfarçado
Fazendo do trinado seu lamento
É um pobre coitado o tal homem
Quando ele não se dá por conta
Que ao privar a ave do seu bem
A liberdade ele mesmo a afronta
Coitado daquele homem da cidade
Trancado entre a grade e o portão
Tal qual passarinho sem liberdade,
Quase vivendo em igual condição
Os dois na prisão canta saudade
O homem detido na sua mansão
A ave só por causa da crueldade
E o homem com medo do ladrão
O homem que não se dá por conta
Que a liberdade afronta sem razão
Não passa de uma besta vaca tonta
Ao manter um pássaro numa prisão
A realidade mostra que ele mesmo
Está preso e vive mais na solidão
Do que o pássaro que vive a esmo
Sem nunca saber o motivo ou razão
Canto de pássaro preso na gaiola
É somente a forma de lamentação
Já o de um passarinho livre consola
As suas notas tem outra entonação
São gorjeios e suspiros de alegria
Que brotam do fundo do coração
Trazendo a natureza numa magia
O doce som de uma linda canção
Ser pássaro de gaiola pense bem
Jamais foi a vocação de uma ave
Ela nasceu pra bater asas ir além
No voo exuberante e magia suave
Ele tem razão e não pode ser feliz
Trancafiado numa pequena prisão
Maltratado por um homem infeliz
Ser covarde sem amor no coração