Palavras de Um Rio às Matas Ciliares

Por Nemilson Vieira de Morais*

Fomos feitos assim (há bilhões de anos) e dessa maneira é que temos de ser.

Devemos continuar nessa comum união até o fim de todas as coisas...

Como a carne e a unha é que somos; em boa vivência e, necessários um ao outro.

Nesse caminhar perene, em simbiose nos inteiramos: nas saudáveis relações ecológicas pela vida.

Por onde passo e não me respeitam, sou degradado, assoreado... Ao sentir a sua presença, me renovo. Na maior parte do meu percurso é assim (em renovo constantemente). Ainda bem que nos compensamos...

Vivemos em mútua cooperação: forneço-lhe água boa, umidade, coopero na germinação da semente, no seu crescimento.

... Em contrapartida: recebo sua sombra amiga, frutos à minha fauna-aquática,

proteção da erosão e de outras interferências...

De uns tempos para cá, minha vida é um penar... em pontos críticos do meu percorrer, pela sua ausência (matas ciliares). Sofre eu, você e aqueles que dependem de nós...

Em muitos lugares em que passo já não cumpro mais minha função (pelo recebimento de resíduos, de toda sorte, dejetos), mas sigo na minha complicada missão... Meio grogue, com cheiro insuportável...

Fui a alegria dos meninos poções, mas, ao depender do lugar que me encontrar: detestável.

Mesmo fétido (por animais-humanos-sem consciência) em alguns trechos que percorro, ainda mantenho estes que me sujam e os demais viventes. Gero a vida.

Sem a preservação devida a mim, a vocês (nas precipitações intensas), avanço em volume desmedido, não controlo minha força, meu ímpeto, meu fluxo; saio do leito, o dano é feito...

Promessas de melhoras, no tratamento à nós (a eu, a você), de revitalização, recomposição da cobertura arbóreas das minhas margens, são feitas todos os dias, e o cenário de horror não muda (salvo às exceções).

Assim sobrevivemos: eu, sujo em toda sorte de sujeira, canalizado, reprimido, a correr esprimido (em algumas cidades) com uma cobertura de concreto por cima. Sem ver a luz, sem receber oxigênio; impedido de interagir contigo, com espécies animais, vegetais que dependem da nossa saúde, bem estar para viverem.

... Tu a me desejar por aí, o tempo todo, a existir somente em algum imaginário ou, projeto que não sai do papel (por um motivo ou outro).

Precisarei em urgência, como sempre, da sua afetuosa e primordial companhia, bem junto à mim; em presença física a cada passo que eu der ao oceano — não simplesmente em algum plano.

"Quem sabe um dia volto a ter boa vida em toda a minha extensão". — Ernesto Agustus

*Nemilson Vieira de Morais,

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário. (29:06:22)

Nemilson Vieira de Morais
Enviado por Nemilson Vieira de Morais em 30/06/2022
Reeditado em 01/07/2022
Código do texto: T7549170
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