FLORESTA MÃE
Meus passos me conduzem floresta a dentro
A medida que os aclives vão se acentuado
Sou saudado pelos habitantes mais ilustres
Livres e felizes, com o que tem de mais precioso:
Liberdade alada!
Eles não imaginam que muitos de sua espécie
São encarcerados e tristes
Seu canto e sua exuberante beleza
As causas de tamanha brutalidade da insânia desumana
Então eles poeticamente, traduzem a voz da floresta
Ingênuos, despretensiosamente voam para onde está seu alimento, seu ninho, ou uma fuga desesperada pela sobrevivência dos mais aptos
Na qualidade de intruso me introduzo floresta adentro
Em completa desarmonia com aquele bioma
Meu cheiro, minha saliva e o pulsar do meu coração não se encaixam naquela harmônica sintonia
Enquanto caminho meu pisar nas folhas
São um alerta de predador inconveniente
As criaturas aladas ao redor vão dando um aviso de perigo iminente, de não aprovação
Um gélido vento toca meu rosto nu
Fecho os olhos e inspiro o ar que enche meus pulmões felizes
Neste momento de sublimação
Ouço o som singular e peculiar
Meus ouvidos se inclinam extasiados
São as águas que lambem as pedras
Que por horas denomino cachoeira
Que de tão harmoniosamente bela
Se faz rainha da floresta
Trazendo uma paz, sonoridade, vida e completa sintonia com o ambiente
Fazendo rolar sementes que eclodem nas cercanias ou onde quiserem as leis da floresta mãe
Um conjunto que se completa delicadamente
Assim, vem descendo mata abaixo uma neblina, molhando por pura diversão as folhas e celulose, das árvores felizes
Para onde meu olhar me leva olhar
A simbiose é latente, até mesmo e principalmente onde a vista não pode alcançar
De mim, transborda além de medida, reverência e temor
Que só de pisar nas flores que caem ao solo sinto vergonha de ali estar
Apresso meus passos para não atrapalhar ainda mais suprema generosidade coletiva
Frágil, delicado e tímido momento
Que vai imprimindo em mim o desejo de interagir e fazer parte daquele ritual sublime
As árvores olham para baixo com reprovação
Eu baixo a cabeça e continuo em frente
Meus passos seguem meu obstinado desejo de chegar ao meu destino
Assim a floresta vai me absorvendo ainda mais para seu interior sob seu olhar atento
Um organismo vivo e de inteireza complexa
Sinto-me privilegiado de estar presente
Seguro-me a raiz para vencer o aclive
O ranger dos galhos mostra que o vento invernal se faz presente
Como um presente a completar completamente o cenário
Assim, percebo a mudança na vegetação
Que me avisam que fui conquistado por mais um cume
E após observar a paisagem ao redor
Percebo o amor incondicional e atento
Daquilo que vamos destruindo predatoriamente
Ela, por incondicional amor
Nos fascina!
Rio, 01/01/2022
Em uma das muitas idas ao PARNASO, tornei-me apaixonado.