EGOSSISTEMA

Quando colamos um objeto fraturado,

ainda que façamos um bom trabalho,

concluímos que o modelo original

era melhor, muito melhor.

O saudosismo não reconstrói o que a nossa mão

destruiu, mas melhor assim do que nada,

pensamos.

A altura cronometrada dos gramados,

o espaçamento milimétrico entre os canteiros,

o alinhamento entre as árvores nas alamedas,

o esmerado reflorestamento das araucárias,

a combinação entre as flores dos jardins...

Nada disso é assim tão belo quanto parece ser.

Na tentativa de remediar (e de nos redimir, talvez),

ou de sobreviver, não deixamos de ser absolutistas

e nos perdemos no exagero doentio dos cálculos

e na inútil busca pela perfeita reconstrução.

Mas a beleza das coisas nascidas ao acaso é inigualável,

pois só Deus tem o segredo da primeira semeadura.

Remisson Aniceto poeta
Enviado por Remisson Aniceto poeta em 29/04/2022
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