O sol nosso de cada dia, ou, a fábula do sapo na panela

Hoje o sol, ocupado me disse: bom dia!

Eu, menos atarefado, em meu abrigo

Me permiti ser a voz da outra via

Respondi: para ti também, meu amigo.

Tens andado injustiçado porque ardes

E faz-se abrasador ao meio-dia

Para uns, subtraiste das tardes

A leveza, o perfume, e a poesia.

É que o manto que pusemos lá em cima

Aprisiona cá embaixo o calor

E as ilusões ao pé de nossas retinas

Refutam a causa atribuindo-lhe o ardor.

Para outros, mais importa é quando raias

Quando ferve o suor de ir às praias

E o que afetará milhões tem stricto sensu

Porquanto, a usura se disfarça de consenso.

Vê o vento e as enchentes destruindo

Como uma hiena, o homem do tempo só ri

Enquanto andamos desmatando e poluindo

Isso é o que há de novo debaixo de ti.