Borboleta
"-Evém boiada!...
Errante, na distância,
Nas quebradas, nos pastos, nas estradas,
- o sonido bárbaro do berrante!"
(Cora Coralina)
Às vezes sinto-me um monstro!
Depois me penitencio pela desgraça
Evém borboleta ensinar o que seu pensar exprime
Mostrar como luta e usa todas suas forças
Para impedir que pratiquemos um crime.
Ao colher uma couve pra me alimentar
Destrui seus minúsculos ovos amarelos
Que se transformariam em lagartas verdes
E borboletas a voar rumo a novos castelos.
Dessperado o casal circulava minha cabeça
Em uma dança insistente, lamuriosa
Avisava e implorava por suas crias
Na esperança de uma ação milagrosa.
Mas eu ali, insensível à sua dor,
Colhi, examinei e tratei como lixo
A folha da couve - seu ninho!
Selecionado com cuidado e botado com amor.
Na mão, de castigo, espetou-me um espinho
E na goela, de remorso, senti um amargor
13/02/2022