Solilóquio da Natureza

Eu, que sempre estive aqui, sou espaço para a vida.

Eu sou eu: sempre vestida por uma rica indumentária.

Mas, agora, me encontro quase nua.

Para onde foram as minhas vestes?

O que fizeram com elas?

Começarei pelo meu longo manto - manto de mãe.

Ele é formado por oceanos, lagos e rios translúcidos, de rara beleza, que cobrem a face da terra.

Embora tudo indique que esse manto tenha virado uma espécie de trapo, que vive sujo e descuidado, ainda é o meu verdadeiro manto. E tem a cor dos céus.

E a minha túnica verde?

Ela é feita das florestas. São tecidos verdejantes que se entrelaçam e que têm um bordado de beleza ímpar: as flores esculpidas por Deus.

A minha túnica está muito rasgada...

Além disso, a minha túnica é a única comestível pelos frutos que dá.

E o meu corpo, que deram o nome de Terra, está doente.

Meu corpo está sofrendo pelas grandes mutilações.

Por que me escavaram tanto?

O meu corpo está debilitado...

O meu ar está comprometido...

Por isso, volto a perguntar:

O que fizeram das minhas vestes?

Eu preciso estar vestida para servir.

Eu preciso estar nutrida para alimentar.

Eu preciso respirar bem para salvar.