Destino, talvez
Oh carros, tratores, caminhões, carretas colossais dignas de grandes mamíferos.
Oh motos, trens, metrôs;
Novos guepardos, serpentes, minhocas.
Oh aviões, jatos, caças;
Grandes pássaros, aves de rapina.
Oh grande fauna metálica rangendo, zunindo, girando, voando...
QUASE VIVA!
Oh postes que florescem toda noite,
Semáforos que florescem de minuto a minuto.
Oh casas arbustivas, daninhas, a se multiplicarem e crescerem velozmente.
Oh prédios de várias formas e tamanhos bem enraizados no chão;
Abrigo e sustentáculo da vida moderna.
Oh flora de concreto e aço que é na verdade fruto.
Oh Homens perfumados, vestidos com excesso, elegantes.
Oh shopping centers de todas as futilidades,
Desnecessariedades adquiridas, incorporadas e então:
Indispensáveis!
Oh supermercados com todos os biomas onde se caça com dinheiro a carne já morta,
Onde se coletam os vegetais já colhidos,
Onde o fruto da indústria humana, em belas cascas, atordoa os paladares.
!!!
Ahhhh viver,
Pelo prazer, pelo poder...
Sobreviver já parece pouco.
Ahhhhhhh modernidade,
Meios substituídos, fins substituídos;
Vida outra, Homem outro.
— Cadê o Homem que estava aqui?!
...
Mas não me mandem para selva caçar e sobreviver;
Não me mandem para o campo produzir e ver crescer.
Não me coloquem agora aonde talvez deveria ter nascido e onde deveria estar.
Não reclamo o que sou, mas o que poderia ter sido,
O que talvez nasci para ser e já não posso.
Eu e tu, meu caro.