Rios chorando sem leitos na Bahia
Demorei muito para voltar ao leito, secando ao sol, invadido por construções.
A cada tempo que vocês me apertaram, maior ficaram as minhas aflições.
Não bastou pequenos avisos temporais, vocês pensavam que eu havia morrido.
Minha sina é chegar ao mar, todos sabem, mas parece ter esquecido.
Procurei voltar ao leito sofrido, e para o meu desespero, não achei em Ibicuí.
Segui por Pau Brasil, Itabuna, Ilhéus, Ibitupa, Itajuípe, Itapitanga e Ibicaraí.
Subindo meu nível sobre as populações, pois sem leito eu não me encaixo.
Sou também o Cachoeira, e quando eu me deito para correr, saia de baixo.
Outros irmãos de águas doces também pressionados, invadiram outras cidades.
Vocês têm onde se deitar e rolar, mas as especulações imobiliárias são crueldades.
Cidades que crescem, nos reduzem. Ilhéus, Itabuna, Caetité a Igaporã são assim.
Criam pontes, como em Itabela e Eunápolis, tentando invadir e se livrar de mim.
O outro, o Jequitinhonha, banha Monte Formoso, Palmópolis e Fronteira dos Vales,
Mas não encontra mais o espaço entre as construções que aumentam os males.
Quem são mesmo os atingidos? Aqueles que vão precisar de mais indulgência?
Precisamos definir quem são as vítimas, e decretar certo o estado de emergência,
O baixo do vale, o Jucuruçu que passa por Itamaraju e chega ao mar, em Belmonte.
Quem sabe de encontros bonitos, do Araçuaí e Jequitinhonha em Minas, me conte.
Com pena, os desabrigados sofridos vão sendo amparados nas dores pela Defesa Civil.
Enquanto rompem barragens, como em Itambé, Anagé e outros cantos do Brasil.
Outras cidades que nos invadiram sofreram, como Vitória da Conquista e Itacaré,
Teixeira de Freitas, Porto Seguro, Canavieiras, além de Ubaitaba e Jequié.
Se vocês quiserem parar e pedir perdão, aceitamos com água no leito de tristeza,
E prometemos não causar mais nenhum dano, agradecendo enfim a gentileza.