Se tem passarinho, flor e sereno;
tem poesia!
Debaixo de folhas em concha
Posto que dorme em arvoredo, aninhado
Despertando-se por quedas de gotas serenas
Numa aurora suave, tranquila, florida e amena
O pequeno, pássaro arrepiado!
Um pingo, lhe pinga cabeça
Sacode-se tanto, que mexe até o copado
Caem em si, perdidas outras, pingadas pequenas
Encharcando-o, de graça e paz, a vida terrena
O passarinho ficou completamente molhado!
Outros seus, apressam o desfolhar das galhadas
De tanto sacodirem, rindo e zoando, do pobre coitado
Pera lá, a coruja mais parece uma hiena
Tinha, era que ser filmada esta cena
Como um pinto, o passarinho ficou todo ensopado!
Forçado arregalar e despertar, de repente
Por Deus, pelo céu, pelo orvalho fora acordado
Olhos meus, viram um dos mais belos poemas
Sucessivas, correntes de molhas serenas
Pura poesia, no chacoalhar do passarinho encrespado!