O BICHO E A GOIABA
O BICHO E A GOIABA
Carlos Roberto Martins de Souza
A goiaba é minha parceira nesta vida
Pela mãe mosca azul fui deixado aqui
A ela sou grata pela melosa acolhida
Só uma mordida errada me tira daqui
Em minha volta descortina o universo
Um banquete saboroso e convidativo
Na semente da goiaba local adverso
O banquete se fez um doce aperitivo
Não posso descrever tudo que sinto
Em minha volta há um doce convite
Poupas aguçam meu nobre instinto
É uma mistura que me abre o apetite
Não temo a elegância nem a estética
Minha origem faz deliciar ao extremo
Eu não tenho uma aparência atlética
Não abro mão deste prazer supremo
Vou mergulhar nas entranhas da fruta
Vou desfrutar do seu amor e ternura
Como bichinho insignificante na gruta
Só aprecio da essência dela madura
Por mais insignificante que um bicho
Daquela formosa goiaba madura seja
Quem nunca com todo o seu capricho
Ao comer a fruta foi vencido na peleja
Sou um bichinho e vivo em labirintos
Eu me conforto nas câmaras da fruta
Faço turismo sou do time dos famintos
As vezes acabo morro de forma bruta
Não me dou bem em outro ambiente
Me alimento apenas da bela goiaba
Se tiver um banquete estou contente
Se ela vier a cair minha vida ali acaba
No final desse meu banquete predileto
De barriga cheia onde vou eu não sei
Se no papo de uma ave de sabor seleto
Ou pisado por alguém eu nunca pensei
Sei que um dia serei um bicho extinto
Mas enquanto isto não acontece comigo
Pretendo aproveitar a vida e não minto
Até ser expulsa deste meu nobre abrigo
Se não for colhida tenho muito medo
Vencido o meu tempo naquele galho
E já sem forças no meu único dedo
No chão explodir meu belo agasalho