Uma Estrada, Um Imprevisto, Uma Mudança

Era um vez um caminho tranquilo,

Seu nome: estrada da vida,

Suas retas eram compridas,

Suas curvas bem fechadas.

Não tinha piche nem cimento,

Mas tinha pedras soltas e terra molhada,

Uma placa no início convidava os aventureiros:

“Cachoeira do Amor a 33 quilômetros.”

Em seu curso, árvores e jardins podia se ver,

Um rio se apresentava cristalino,

Pássaros entoavam canções de alegria,

Algum pastor conduzia suas cabras,

Cães ladravam a qualquer ameaça à monotonia.

Uma pane no veículo obrigou uma parada,

O telefone móvel sem sinal tornou-se inútil,

Não havia oficina, nem sequer um restaurante,

Somente o bar do Severino permanecia aberto,

Deserto, sem freguês, sem alimento, sem ajudante.

O motorista pediu refrigerante e informação,

Não havia como socorrer o necessitado,

O bar-homem lhe ofereceu uma pousada,

Única alternativa numa parada forçada.

A contra gosto aceitou o viajante,

Somente como falta de opção e não decisão,

Lamentou renunciar seu destino solitário,

Desesperou-se por não poder voltar ao lar,

Desonrar seus compromissos lhe fez adoecer,

Mas enfim conformou-se com a falta do que fazer,

Com o tempo aprendeu a amar o lugar

E decidiu ali constituir um novo lar.

Quando teve seu veículo recuperado,

Não pensava mais em voltar à origem,

Enfim sua vida foi transformada

A partir de um acontecimento não previsto.

Aquela estrada sugeriu a mudança,

A placa com a flecha acertou seu coração,

Mas o caminho continuava quietinho,

Sem preto asfalto, sem paralelepípedo

E a placa traduzia a indicação: “Siga nesta direção”

“Mude seu caminho, sua vida, sua história”

E o vento assoviava como reforço ao convite

As árvores balançavam, os jardins se exibiam,

Os cães latiam, os pássaros revoavam,

O pastor conduzia seus bichinhos,

O dono continuava a abrir e fechar o bar,

O ex-motorista seguia a pé pelas trilhas,

Indo, voltando e apreciando tudo ao seu redor,

Em vez da fumaça, o perfume das plantas

Em vez da gritaria, a quietude da paz

Em vez dos arranha-céus, o céu cheio de estrelas

Em vez da loucura da cidade, a doçura da tranquilidade.

Aberio Christe