Tarde

Tarde (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

Tarde chuvosa,

Noite calamitosa.

O camponês sentado à beira do fogão,

Retoca o fogo, arrumando o tição.

O caldeirão cozinha o feijão,

Parecendo um panelão.

Lá dentro o preto feijão,

Com angu, arroz e macarrão.

Olha para a janela meio aberta,

Assim a ideia lhe desperta.

Vendo o sabiá na copa da laranjeira,

Cantando muito e até pensando besteira.

,

Aos pés, perto do fogão, relando as pernas está o gato.

Ele fica triste, pois parece estar chato.

Quer o carinho do dono,

Se fosse humano, seria seu mordomo.

Um estalo ouve-se ao longe,

Do outro lado, na terra do monge.

O camponês levanta lentamente,

Confirma ser um trovão realmente.

Vá até à sala e vê o quadro de santo,

Tirando o chapéu e se ajoelha no canto.

Faz a oração

Fazendo o nome do pai e beija a mão.

Meio cambaleando da labuta do dia,

Lava o rosto na água fria.

Os pés ainda com poeira,

Pois a jornada foi feia.

Aos poucos liga o chuveiro

Onde a água sai pelo terreiro.

Um banho rápido, com muita espuma

Porque o corpo já quer uma cama.

Vestindo a roupa de dormir,

Finge de duro para não mentir.

Está com saudades da família na cidade,

Queria estar lá, com muita felicidade.

Com o prato esmaltado na mão,

Sente um forte aperto no coração.

Tira a comida do caldeirão,

Reparte um pouco com o gato, seu amigão.

Serenamente come tudo,

Olhado para a fresta da janela, seu mundo.

Com um sorriso agradece ao alimento,

Para ele o sustento.

Aos poucos a chuva cai lá fora,

Um cochilo no banco, em boa hora.

O sono chega e é pouco,

Fecha a janela para não ficar rouco.

Assim adormece serenamente,

À labuta para o próximo dia eternamente.

Ao som do canto do galo, no terreiro,

Amanheceu, já é fevereiro.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 27/02/2021
Código do texto: T7194255
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