POEMA DARWINIANO

A natureza te enche de pelos

mas não te dá a tosa,

te arrasta pelos cabelos,

te faz um sujeito prosa,

seleciona teus pensamentos,

te obriga a filosofar,

te faz criador da rosa-dos-ventos,

a domar a terra e o ar,

só não te ensina a compaixão,

coisa de tua cabeça

e não do coração...

Iguais nós fomos

quando saímos do mar,

com guelras e escamas,

aprendendo a andar,

a esculpir pedras e galhos,

a aprender a pescar,

selecionar territórios,

a demarcar o chão milenar,

só não te ensina o amor,

coisa de tua cabeça,

teu coração só reconhece a dor...

Hoje, macaco ereto,

a usar abotoaduras e pente,

tem para si que o quê faz é certo,

conduz a massa ignara dolente,

olha no espelho e se vê, esperto,

membro da humanidade, espigão,

mas lá no fundo tem a certeza

que és o humano fruto da evolução.