PÁGINAS VERDES
As asas brancas vagando
muito alto, bem distante,
como as gaivotas paisando,
são as nuvens arrogantes.
O bramir que naqueles mares
é o gemer de tais ventos.
Pelas areias, pelos vales,
pelo canto deste alento.
Dá braçadas, o coqueiral,
caem côcos no areal.
Nas relvas se colorem,
um verde natural.
Faz um tom diferente
num pequeno matagal.
Canta, ao longe, dumas serras,
qual festivo, o sabiá.
Seu gorjeio, ali, impera,
onde a saudade vai reinar.
É cantiga de esperança
que a vida já alcança.
Os sorrisos das borboletas
e o sereno canto faceiro ...
Dar-nos este licor silvestre
e a fragrância do espinheiro.
Passarinho, onde residas?
Neste ninho de laranjeira,
ou no broto desta roseira
desta bela rosa florida.
Tu és o poeta deste jardim.
És o romance deste jasmim.
Nas páginas deste livreto,
escrevo versos natureza.
Quantos gorjeios dum soneto
das passaradas em proezas?
No caminho, vai-se campônio,
travando passos de quelônio.
As horas, em breve, passam.
Tarefas, por si, abraçam.
Deixa na canção desta vida,
a voz que nunca foi ouvida.
À noite, luzem estrelas,
divertem os vagalumes.
É uma poesia sentinela.
É um canto de perfumes.
Pela estrada, vai a lua
a clarear silenciosamente,
sem vestes, toda nua.
Caem gotas de orvalho,
que umedecem friamente
o campo de trabalho.
São uma obra divina,
as plantas e os animais.
São lembranças desta sina,
que não se esquecem jamais.
As borboletas são crianças,
que vivem do tom das cores.
Os beija-flores são as alianças,
que constroem os amores.
Destes vergeis nascem vida,
que não se faz por esquecida.
Já escrevia a poesia,
que nela ficou o pincel,
com qual Deus em harmonia
tingiu o azul do céu.
Fez um sol claro e forte,
somente para clarear.
Caminhos de sul a norte,
rumo à terra ou ao mar.
Recitou verso que não ouviram
e a canção que não cantaram.
17.08.1985