FENÔMENOS NATURAIS E BALANÇOS
Eu corro descalça na grama
Rolo na terra, danço sozinha
Tomo banho de chuva, piso na lama
Me alimento do pôr-do-sol, em sinestesia
E se o vento do amanhecer do dia
Vier até mim em sua ousadia temprana
Desejarei imensamente estar no mar numa maresia
Observando dos lindos navios e ilhas à Fata Morgana
Desejo imensamente os cristais de gelo e minério
Dos quais a beleza inefável acende minha alma em excelência
Dos diamantes às ametistas, euclásios, ouro e seus impérios
Rutilos e alexandritas, prata e muita paciência
Para extrair a fosfofilita, linda mas quebradiça e cheia de exigências
E se cristais não são uma das coisas mais perfeitas, duvido sério
Perturbo a oscilação das ondas das poças, pássaros se escondem em emergência
Lá vem chuva forte, para fortificar a mandrágora e seus mistérios
Chuva e sol, o arco-íris se exibe e decora
Espanhóis se casam, viúvas usam véu
A tranquilidade do mar, pegue o anzol, observe sua glória
Contemple as gaivotas que pairam no céu
Respire o mar, sinta o mar, perfeita tonelada de água jogada ao léu
A agressividade do mar, olhem a tromba-d'água, saiam de seu caminho agora
Olhe as abelhas, experimente o favo de mel
Cuide delas antes que virem memória
Observe a aurora, suas cores incandescentes
O frio nórdico, o mundo do outro lado
Pairando brilhante em contraste com os transeuntes
Como se Deus acidentalmente tivesse derrubado tinta num quadro
As botas afundando na neve, o parélio, pequenos iglus arredondados
Pairam em brilho magnífico cabelos de anjo quase transparentes
E, em seus pequenos finíssimos fios delicados
Me confundem sumindo de mim em mistério envolvente
Vago, minha casa é onde eu quiser estar, eu durmo em qualquer lugar
Passeio na cidade à procura do nada
Tenho pressa e não tenho, eu sou o meu próprio lar
Faço um desenho, escrevo um poema, corro pela calçada
Roubo o lugar do seu filho balançando de dia e de madrugada
Vejo um balanço desprevenido e vou lá balançar
Será que esse governo decadente pode me dar uma ajudada
E construir mais balanços para essa ladra de balanços se sentar?