A Nossa Àgua
Por Nemilson Vieira (*)
No meu leito, em sinuosos seguir, serpenteio para o mar. — A manter e gerar a vida.
Nas nascentes, broto do chão transparente, bonita, fresca, desejada.
Na forma de chuva, desço do céu, das brancas nuvens.
Num viver cíclico ponho-me a irrigar o chão, as plantações, e de bondade encho o mundo.
Há corações aflitos, a minha procura para atendimentos das mais diversas atividades; colhem-me, filtram-me, ou não, acondicionam-me das mais diversas maneiras…
No amor fui gerada e ponho-me a viver nele e por ele. — Disponibilizado na caridade que faço à obra da criação. Careço duma reciprocidade para continuar a cumprir a minha missão.
Abasteço a todos que desejam-me de igual modo; no campo, na cidade, nos mais íngremes e diversos lugares da Terra.
De gotas em gotas, encho os reservatórios, os vasilhames… Ponho-me a escorrer, a gotejar; das torneiras, dos telhados, das bicas, dos riachos.
Sou o sereno da madrugada, o orvalho da manhã; preservada não ostento odores algum ou, cores; sou transparente como um cristal. Assim sinto-me útil para servir de verdade e fazer a vida acontecer em cada canto.
Supro as necessidades de quem as desejam; quebro a inércia da semente, o broto cresce, enche de graça um triste viver dum vegetal.
Sacio a sede dos bichos, das plantações, da população.
Dou a liga ao barro, ao concreto, ao pão que alimenta; estou na prosa e na poesia dos poetas. Faço e refaço-me no tempo, no clima das estações…
Renovo-me no respeito e no bom trato das pessoas para comigo.
Aprendam com o meu proceder: nas dificuldades do meu caminho contorno, obstáculos, venço desafios; sem lamentos.
Desço com frequência às profundezas da terra e retorno de lá ainda mais pura, cristalina para o consumo; exemplifico a persistência.
Contudo, as minhas virtudes não me tornam a "toda poderosa”. Sou igualmente aos demais viventes criados: vivo a depender do mesmo respeito, trato, cuidado, amor…
Sou a água limpa no organismo de quem a deseja.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário.
(05:03:18)