Carreiro
A tarde cai fria e serena,
Na relva baixa e com pequenos arbustos.
O vento sopra nas copas das árvores
Fazendo um barulho sentimental.
Os bois, em dupla de dois,
Contando dez.
Vêm passo a passo,
De cabeças baixas,
Olhando para o chão,
Escutando o cantar triste
Do carro de boi carregado,
De milho em espigas.
O carreiro alto e forte,
De chapéu de palhas.
O rosto fino, banhado de suor,
Vai gritando todos pelos nomes.
Roxinho e Malhado são os bois da guia,
Vão seguindo o candeeiro.
Um jovem de doze ou treze anos,
Com o chapeuzinho de palha na cabeça.
Sobre o ombro esquerdo, a varão de ferrão.
Vai chamando os bois:
- À direita, meus queridos,
Malhado, vem para cá.
Ouve-se o barulho da argola do ferrão,
Junto ao lombo do boi Dourado.
Lá se vão pela precária estrada,
Cheia de arbustos e vassouras de alecrim.
O cantar do carro de bois,
Carregado de milho da roça.
Levantando pequena poeira,
Cheiro de verde paira pelo ar.
O tucano olha do alto da árvore,
Faz sinal de voar.
O gavião voa rasante
E pousa na árvore ao lado.
Também querendo ver o carro passar.