RIO

Quando um poeta escreve a palavra rio

tente captar tudo que não foi dito

e até o que ele não pensou em dizer.

Rio significa fluxo, vida que passa,

água que corre, que evapora em nuvem,

que cai em chuva, que molha o chão,

que apodrece folhas, que se juntam com terra,

que alimenta minhocas, que fazem adubo,

que engravida semente que brota em árvore,

que cresce frondosa, faz sombra para os bichos

e onde passarinhos vêm cantar,

amar, fazer ninhos e filhotinhos,

que vão crescer e comer sementes,

que cairão na terra e ficarão prenhas

de vida com ajuda da água que vêm do rio,

que será renovado toda vez que o céu derramar água,

talvez a mesma água que já esteve nele

ou em outro rio que flui como ele.

O poeta não é dono da palavra,

ela é a maioral e manda nele,

assim como a água é dona do rio

e a vida é dona da água

que corre, molha, evapora, condensa

e derrama em chuva para o rio correr

e a vida seguir seu fluxo.

Mesmo que não consiga decifrá-los,

o poeta observa e intui os rios e mares e oceanos,

e estradas e trilhas e rotas e palavras

por onde a vida flui em águas e gente e poesia.

Então ele divulga o quebra-cabeças,

inteiro e desmontado,

que mentes e corações nunca conseguirão

montar em sua completude.

Silva Edimar
Enviado por Silva Edimar em 21/05/2020
Código do texto: T6953927
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