Compreendo bem seu sofrimento
Pequenino plumado, cantador
Esse canto seu, não é canto
É tristeza, é lamento
Podaram asas e teu encanto
Passarinho lindo, sofredor!
Soltos estás nessa imunda gaiola
Cerrado fostes sem dó, nesta prisão
Que delito cometestes? Porque tanto padeces?
Pequenino, queria contemplar tua fuga agora
Qual mal tão grande assim fizestes
Passarinho, quem te fez... é mau,
Pois falta-lhe um coração!
Nunca esmoreças, jamais desistas
De lutar, clamando por comiseração
Maldosa sanha que te encerrou
Torpe visão, vil mercantilista
Maldita falta de amor
Cólera, infame e cruel, sem compaixão!
Se puderes, absolva-me de tua dor por nossa torpeza
Puro pecado, miserável engano
Bendita e ingênua, criatura Divina
Força do bem, da natureza
Pois não tem nada que te redima
Maior obra de Deus, tu: Ser humano!
Repare, esse instante se faz hora certa
Pra te apartes do mal da crueldade
Aproveite-se, por tão rara distração
Percebas, está tua cancela aberta
Escapes, suma voando desta prisão
Não era essa tua maior vontade?
Cadê, que não posso ouvir teus gruídos?
Choros, lamentos, nem os teus prantos
Doída dor, que confesso doía em mim
Reaja, levante-se, não se dê por vencido
Será, que será esse teu fim?
O porquê desse silêncio?
Por que não ouço mais o teu canto?
Enfim, emudecido de vez está teu grito
Calado pra sempre, o belo canto seu
Despencastes deste desgastado poleiro
Vá agora cantar, teu cantar mais bonito
Voltar ao amor, mais que verdadeiro
Pra embalar no Paraíso,
O Justo Santo, Sono de Deus!