Clareira - Reduzida a cinzas

Templo verde coroado por folhas

de ouro e de jade as mais nobres das joias.

Sobre as colunas, madeiras vermelhas,

pendem: cipós, samambaias, jibóias.

Tronco-altar adornado por fungo,

grilo a rezar e com ele eu comungo.

Ouve atento o coaxar ritmado

que entre esmeraldas espreita velado.

E as moitas tremem:

shh SHH shh shbote;

nos Templos-tumba,

muralhas sob um

constante cerco.

Mato-muro verde-escuro

de contorno irregular,

sob um aro verde-claro,

um anel a cintilar.

Residindo à fronteira,

uma aranha tecedeira

faz cilada traiçoeira

enfeitando a pitangueira.

Amarrada em todo galho,

tua teia cata orvalho,

cata a ceia em fio grisalho:

dez mosquitos zunem zonzos.

Templo verde de deuses antiquados

que ainda exigem sacrifícios.

No terreiro:

formigueiro

imponente!

Formiguinhas,

carregando

bandeirinhas,

em filinhas

mergulhando

a tratar dos

seus tratados

do subsolo.

Um desconsolo

não poder ver.

Templo verde de segredos eternos,

solo fértil de brotar fantasia.

Na esquina do equinócio,

descortina o ócio:

tucanos aninhados,

violinos cálidos

de bicos escarlates

e de ricos embates

musicais.

Se achega a andorinha,

no galho rubi se avizinha

atrás do filhote perdido,

hora dessa já engolido

por algum bixo pendurado.

Saqueadores de jóia!

Foi cipó, samambaia ou jibóia?

Templo verde, cinza de tristeza,

-

cinza das lamúrias dos passarinhos.

Templo cinza coroado por fios

cobre, poleiros dos pássaros ébrios

pela apatia cinzenta dos prédios

cheios de telas, dinheiro, trabalho.

Ego-altar adornado por ouro,

todo mundo arrastando os joelhos,

sangue e pele pelo asfalto duro

como se fossem riachos vermelhos:

E os vivos nadam

buscando um bote

nos templos-tumba

fedendo a morte.

Ouro-muro verde-claro

impossível de passar,

bate-ponto vende-alma,

tenta até ficar sem ar.

Residindo à fronteira,

a cigana cartomante

faz cilada traiçoeira

seduzindo o passante.

Orações de ritmo hipnótico,

padrão confortável abruptamente abandonado,

amarra os títeres em cordel caótico

de palavras-miragens-promessas

que não se sabe onde terminam nem onde começam.

Templo cinza de deuses modernos,

mestres das sutilezas e grosserias, insolências e submissões.

Na avenida:

cruzamentos,

labirintos.

Homenzinhos

carregados

em carrinhos,

hipnotizados

a tratar dos

seus tratados

de gente grande.

Todos rumo

ao subsolo.

Um desconsolo.

Templo cinza de secretos infernos,

salga o solo para matar fantasia.

Na esquina do equinócio,

descortina o ócio:

espíritos adestrados,

dopados, maltratados,

debates viesados

de assuntos repetidos.

Sufocante.

Se achega o pedinte,

no asfalto quente da avenida

suplicando pela vida

hora dessa já engolida

por algum bixo pendurado.

Saqueadores de jóia!

Foi tela, dinheiro ou trabalho?

alizu
Enviado por alizu em 12/03/2020
Reeditado em 12/03/2020
Código do texto: T6886192
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