garrafa PET
casas na água
ruas sob água
boia sobre ela
bela donzela
sobreviventes
culpam a natura
pela tragédia
e a morte dela
cegos estão
à natureza
que só reage
à má ação
pai da donzela
lança entulhos
mãe da menina
joga embrulhos
mano e os pacotes
pela garagem
mana e prima
quanta embalagem
'vó da moçoila
cospe retalhos
pela janela
junto ao 'vô dela
os bisavós
— tempo limpinho —
sujavam mais
"só um embrulhinho"
chuva caiu
levou papel
pano arrastou
lata entupiu
PET e papel
pite e retalho
caco e copel
pote e ciscalho
material
acumulado
todo buraco
retransbordado
antepassados
mesmo dormindo
tornam-se assim
grãos assassinos
quando em vida
nem imaginavam
matar donzela
a quem à luz davam
(re)desdenharam
a natureza
que pranteou
lixo e tristeza
choro e chorume
a longo prazo
tudo alagaram
azo ao Nume
flutua plena
bela donzela
boia a beleza
pra Natureza